quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Trovando Sobre: U2 – SONGS OF INNOCENCE.




“A gente nunca deve se deixar levar pela primeira impressão”, minha mãe sempre diz isso. E eu raramente sigo esse conselho.

Quase sempre, eu me deixo levar pela primeira impressão quando conheço alguém, vou em algum lugar pela primeira vez, como alguma coisa, bebo, vejo um filme, ou ouço um disco.

E confesso que a minha primeira impressão do novo disco do U2, Songs of Innocence, havia sido péssima.

Meses atrás, eu ouvi duas canções que supostamente, estariam no disco, mas que acabaram não entrando no álbum (a tenebrosa “Invisible”, e a mediana “Ordinary Love”, que virou trilha sonora em um filme sobre Nelson Mandela), eu pensei que a banda lançaria outro álbum sem foco e sem direção, como o disco anterior, No Line in The Horizon, de 2009.

E quando, semana passada, eu ouvi o primeiro single oficial de Songs of Innocence, a canção “The Miracle (of Joey Ramone), eu tive uma quase certeza de que o disco seria uma grande perda de tempo.

Ou seja, eu tive várias “primeiras impressões”, de que o grupo tinha errado mais uma vez.

The Miracle (of Joey Ramone)”, é uma canção com uma letra muito pessoal e sincera da banda, pois nela, Bono canta sobre o impacto que os Ramones tiveram no U2 (“o som mais lindo que já ouvi”, é um dos versos da canção, só para se ter uma base).

Com este título, citando nominalmente o vocalista dos Ramones, Joey, pensei que um mínimo de influência da banda nova iorquina, seria empregada na canção, mas não é isso o que acontece. A canção deveria ser chamar “The Miracle (of Arcade Fire), ou The Miracle (of Muse), pois nitidamente, a “levada” e as influências da canção vem destas duas bandas tremendamente pretensiosas e chatas.

Uma mistura de A - HA com o pior do que o New Order já fez, define a canção “Volcano”. Com uns backing vocals horríveis, e uma linha de baixo marcante no refrão, a música parece dispersa e sem atitude.

Outras duas canções medianas são “Cedarwood Road” e a danceThis is Where You Can Reach Me Now”. Quando eu penso em U2, eu penso em grandiosidade, em canções épicas e emocionantes, e estas canções soam para mim, tão “bunda moles” quanto qualquer música dos reis da “bunda molice”, o Coldplay. Mas confesso que “This is Where You Can Reach Me Now” tem um bom solo de guitarra de The Edge, e poderia facilmente, estar entre as canções do injustiçado (e excelente) álbum Pop, de 1997.

Mas a pior canção do disco, é a que talvez, tivesse potencial para ser a melhor. “Iris”, composta por Bono, para a sua a mãe, que faleceu quando o cantor tinha quatorze anos, tem uma letra muito bonita, onde o vocalista diz: “tenho sua vida dentro de mim”, foi massacrada por uma produção exageradamente ridícula (os “wow, wow, wow’s”, do refrão são irritantes) e sem o menor nexo com a letra pungente da canção.

Outro grave problema do disco: o excesso e má escolha dos produtores das músicas. O U2, chamou para a produção do disco o DJ Danger Mouse (do duo Gnarls Barkley), o engenheiro de som Flood (que acompanha a banda há anos) e um outro cara que eu nunca ouvi falar.

Me parece que a banda tentou “se modernizar”, e seguir a tendência da música atual, e eu, particularmente, considero isso uma burrice enorme, e um “passo para trás”.

O U2 nunca seguiu tendências. O U2 lança tendências.


Mas então, quer dizer que eu estava certo, e o U2 errou a mão completamente de novo?

Não.

Song To Someone”, é uma das mais belas canções já criadas pela banda, com uma letra e melodia marcantes, que me fazem lembrar do meu filho sempre que a escuto. A música é perfeita, e os vocais de Bono e The Edge são lindos (sempre achei The Edge um tremendo cantor). Frases como: "Tu tem um rosto que não foi mimado pela beleza..." e "Tu tem olhos que enxergam através de mim...", me atingiram em cheio. É a minha canção favorita do disco.

Outra canção maravilhosa é “Every Breaking Wave”, onde Bono pergunta: “Será que somos tão indefesos contra a maré?"... Que frase! Bono nem sempre escreve grandes canções, mas grandes frases são comuns na obra do cara. 

A canção mais “rockeira” do disco é “Raised By Wolves”, com um refrão forte e “gritado”, onde The Edge “esmerilha” a guitarra, e a bateria tem uma marcação fortíssima. Uma das melhores canções já criadas pela banda em sua carreira.

California (There Is no End To Love)”, é outra música deliciosamente bela, com uma performance apaixonada de Bono Vox, onde ele canta que "tudo o que precisa saber, é que o amor não tem fim". Na voz de outros cantores menos emblemáticos, a frase soaria piegas e cafona, mas quando Bono a canta, ela passa leveza, beleza e a credibilidade de quem tem mais de vinte e cinco anos de serviços prestados ao bom e velho Rock.

O disco fecha com duas canções sombrias e estupendas. “Sleep Like a Baby Tonight”, com uma influência descarada da banda alemã Kraftwerk, que fala sobre um padre pedófilo que vai “dormir como um bebê”, após abusar de crianças. Uma canção forte sobre  os abusos sexuais cometidos (e acobertados) por membros da Igreja Católica.

E a última música do disco, a belíssima e triste, “The Troubles”, onde Bono faz dueto com a desconhecida cantora Lykke Li, é uma daquelas canções fortes porém suaves, bem no estilo típico do U2 dos anos 80, na fase The Joshua Tree.

A edição deluxe do disco, traz duas canções bônus, a excelente "Lucifer's Hands", que poderia estar no clássico disco de 1991, Achtung Baby e a boa e dançante "The Crystal Ballroom".

A capa do disco é marcante e mostra uma foto onde o baterista Larry Mullen, Jr, abraçado ao filho adolescente, segundo a banda, representa "uma tentativa de manter, desesperadamente, a inocência juvenil, em nossa vida adulta."

Songs of Innocence é saudosista e ao mesmo tempo, uma tentativa do U2, de soar moderno. A banda tenta trazer de volta a aura que o grupo tinha na década de 80, mas também, mostrar que eles estão "antenados" com as novidades. 

Precisei ouvir o disco várias vezes para perceber as sutilezas e as “pérolas” dele. Não é um álbum fácil, e necessita ser “degustado”, para que se possa ser totalmente compreendido.

Entre mortos e feridos, digo que é um bom trabalho e digno de estar na prateleira (ou cristaleira), junto com os outros álbuns da discografia da banda.



Espero que ouçam.




Um abraço.

2 comentários:

  1. Ficou muito bom, lembro de quando comprou e da mudança de opinião!!!
    Abs...

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    1. Valeu, mona... realmente, tive de ouvir mais profundamente, para poder compreender o álbum. Abração.

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