Sexta-feira, li no blog do melhor crítico de cinema do
Brasil, André Barcinski, um texto sobre William Friedkin, e como “Guerra nas
Estrelas acabou com o cinema para adultos”. Eu adorei o texto, e um ponto em
especial chamou a minha atenção. André falava muito e recomendava o filme de
1977, dirigido por Friedkin, “Sorcerer”, ou no Brasil, “Comboio do Medo”.
Eu sinceramente, acho que o filme tinha tudo para ser um fracasso de bilheteria (filmado na América Central,
com diálogos em espanhol, francês e alemão), sem atores famosos, e com um tema muito
sombrio, mesmo para a época. E realmente, o filme praticamente, não se pagou.
Porém, trata-se de uma obra brilhante. Um grande filme, e a
partir do momento que terminei de assisti-lo, tornou-se um de meus filmes
preferidos.
O filme já começa de forma eletrizante: Um atentado a uma
mesquita em Jerusalém, um assassinato de um político em Vera Cruz, a fuga de
um banqueiro francês, momentos antes de ser indiciado por fraude, e um assalto
a uma igreja em Nova Jérsei, onde o pároco é irmão de um poderoso mafioso.
Após todos esses acontecimentos, o expectador é transportado
para uma cidade da América Central, que mais parece ter saído do inferno.
Corpos putrefatos jogados no meio rua, condições de saúde e higiene
inexistentes e um regime militar que faria Jair Bolsonaro se sentir em casa, ou
seja, um lugar perfeito para qualquer criminoso fugitivo se esconder das
autoridades. Só para se ter uma ideia, o dono do único bar e restaurante da
cidade, é um ex oficial nazista.
Estes são os “heróis” do filme de Friedkin.
Pois bem, o terrorista, o assassino, o banqueiro e o
assaltante, são contratados por uma indústria petroleira, que manda na cidade,
para transportar pela floresta, dois caminhões repletos de nitroglicerina,
enfrentando todo o tipo de riscos e perigos imagináveis (estradas que mais
parecem ter sido construídas na idade da pedra, pontes tão resistentes quanto massa
de modelar, bandidos, o clima, entre outros obstáculos).
O diretor conhecido por seu temperamento forte (chegou a
disparar uma arma, durante a filmagem de “O Exorcista”, para obter um “autêntico
susto” do ator Jason Miller), não tem interesse em mostrar redenção, ou o “lado
bom”, dos personagens... Friedkin mostra o que temos de pior em nossas almas.
Após filmar “O Exorcista”, que foi uma das maiores arrecadações
do cinema na década (hoje, é considerado um dos filmes mais lucrativos da
História), Friedkin, teve carta branca do estúdio, e tenho certeza, que só por
isso, conseguiu financiamento para realizar “Comboio do Medo”.
Não tenho como enumerar as melhores cenas do filme... A
travessia dos caminhões na ponte de massa de modelar? O início do filme, de
tirar o fôlego de quem assiste? A cena do assalto a igreja? A preparação dos
caminhões? A cena da explosão da árvore gigantesca? O final, estupendo e sem
concessões? Não sei dizer, pois durante o filme, não levantei sequer, para
beber água ou ir ao banheiro... raras vezes fiquei tão “preso” a uma história.
A direção de Friedkin é assustadoramente brilhante, pois não
tenho como imaginar as dificuldades de filmagem, já que pelo que li, o calor
beirava os 35°C durante a noite, as precárias condições das locações, as
dificuldades naturais de se filmar em uma floresta, enfim, empecilhos não
faltaram para a realização do filme.
A atuação do ator principal do filme, Roy Scheider é
sensacional e dá o tom certo ao personagem que só pensa em conseguir dinheiro
para fugir daquele inferno onde está "preso" (Scheider interpreta um dos assaltantes da
igreja).
Quando lançado, “Comboio do Medo”, foi ignorado pelos
expectadores, já que na mesma semana, “Guerra nas Estrelas” foi lançado nos
cinemas dos Estados Unidos, e caiu como uma bomba, arrasando e arrebatando
bilheterias.
Segundo André Barcinski, foi aí, que a coisa desandou no cinema
“para adultos”, já que convenhamos, “Guerra nas Estrelas”, escancarou a porta
para os filmes para adolescentes, já que a maioria das pessoas, adolescentes,
ou não, parou de procurar filmes instigantes, e sem “finais felizes”, a partir de “Guerra
nas Estrelas”, as pessoas começaram a ir ao cinema, para ver os efeitos
especiais, para comer pipoca e doces, para ver “o mocinho matar o bandido”,
para ver o filme, e depois colecionar os bonecos inspirados nos personagens...
ou seja, tudo era importante, menos a história, as atuações e a direção.
É incrível, e ao mesmo tempo muito triste pensar que hoje em
dia, cada vez se torna mais escasso, vermos filmes do porte de “Comboio do Medo”
sendo produzidos. Hoje, as produções de cinema, em sua grande maioria, ou são
filmes infanto juvenis para adolescentes que leem “A Culpa é das Estrelas” e “Crepúsculo”,
filmes (ruins) de super heróis, filmes de ação para pessoas que choram vendo a
novela das 9:00 horas, péssimas refilmagens, ou continuações desnecessárias.
Até o já citado “Guerra nas Estrelas”, está em sua 48ª parte...
Eu tenho certeza, que a indústria do cinema, vive a sua pior
fase, em termos gerais (atores, diretores, roteiros, etc).
Graças a Deus, artistas como William Friedkin, ainda lançam,
mesmo que esporadicamente, filmes excepcionais, como “Possuídos” e “Killer Joe –
Matador de Aluguel”.
Assistindo “Comboio do Medo”, me dei conta de duas coisas. A
primeira: William Friedkin é um dos mais inventivos cineastas da História, e eu
sempre fui um grande fã do cara, mesmo que não tenha me dado conta disso.
A segunda: O cinema já foi Arte.
Espero que gostem.
Abraço.
Tu lendo textos do Barcinski, olhando os filmes e escrevendo textos, é perfeito isso bee.
ResponderExcluirAdorei o texto e adorei a sua empolgação em achar algo novo que goste tanto, acho legal esse seu garimpo de final de semana.
Parabéns. Abs...
Que bom que gostou, loka. Adoro teus comentários! Muito obrigado. Abração.
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