quinta-feira, 26 de junho de 2014

Trovando Sobre: DISCOS PARA ENTENDER O PUNK.



Ontem tive uma visão horrível. Um guri de uns 15 anos no máximo, me disse no Facebook que “é muito apaixonado por bandas punk”.

Esse guri é sobrinho de um grande amigo meu e me parece ser um guri bem legal.

Perguntei quais eram as bandas punk favoritas dele... e a reposta do moleque me fez  ter a tal “visão horrível”.

“Green Day e Charlie Brown Jr.”, foi a resposta. Quase caí da cadeira... literalmente.

Sei que em pleno 2014, esperar que um menino de 15 anos conheça bandas obscuras como Dead Boys e The Exploited, é pedir demais, e nem me assustou tanto o fato do guri citar o Green Day, banda que até tenho uma certa simpatia (apesar de os achar uma banda extremamente pop, com canções rasas e com péssimos músicos).

O que me fez “caírem os butiás do bolso”, foi o menino ter citado o Charlie Brown Jr.

Sempre detestei com todas as minhas forças essa coisa ridícula que alguns insistem em chamar de “banda”. Ao contrário do Green Day, o CBJ, tinha bons músicos que dominavam plenamente os seus instrumentos.

O grande problema do CBJ era o vocalista e “letrista”, o tal de Chorão.

Chorão escrevia letras extremamente ridículas, mascaradas com ares de “rebeldia juvenil e incompreensão”, misturados com um “sentimento patético de posição adolescente contra o sistema” e com uma pitada da mais baixa e rasteira fórmula de letras de “livros de auto - ajuda espíritas”. Exatamente o que a Pitty faz hoje em dia...

As letras do CBJ, parecem ter sido escritas por um menino de 14 anos que já tinha repetido a 5ª série duas vezes. Tenho certeza que o Danilo Gentili devia um ser um grande fã da banda na sua adolescência.

Por essas e outras, resolvi fazer uma pequena lista com cinco discos que acredito, possam ajudar para uma compreensão do que é o verdadeiro estilo musical punk, estilo que surgiu na contramão das horrendas bandas progressivas que surgiram nas décadas de 60 e 70. Enquanto os progressivos tocavam músicas (chatérrimas) com 15 minutos de duração, os punks, em 3 minutos, emulavam Elvis, Beatles, Beach Boys e todos aqueles que faziam música com o coração e com a pélvis, e não com o cérebro e partituras.

Meus discos punk favoritos são:


The Stooges, Fun House – 1970.


Esse grupo é uma espécie de “pré punk”, já que eram punks, antes do termo “punk” sequer existir.

Liderados por um dos maiores frontman da História do Rock, o genial Iggy Pop, os Stooges faziam um som cheio de raiva, angústia e descontentamento com o rumo da humanidade. Ao contrário do CBJ e do Green Day, os Stooges não aparentavam serem punks, eles literalmente viviam o estilo ao pé da letra. 

Drogas pesadas, sexo promíscuo, atitude, rebeldia e violência. Esses eram os ingredientes dessa banda seminal e extremamente influente no Rock. Os Stooges não apenas cantavam sobre a vida marginal, eles a viviam diariamente. Só por conter hinos como “Down on The Street”, “Loose”, “Dirt” e a maravilhosamente insana “T.V. Eye”, esse disco toda vez que fosse tocado, deveria ser ouvido de joelhos!

O primeiro disco da banda, auto intitulado, também é maravilhoso e altamente recomendável.


New York Dolls, 1971.


“As bonecas de Nova Iorque”. Só o nome da banda já é mais punk do que a Avril Lavigne jamais conseguirá ser.

Os Dolls, eram uma banda de caras que pareciam os travestis mais feios do planeta Terra, e que tocavam canções de 3 minutos com uma fúria e uma espécie de loucura que era contagiante. Esse é o primeiro disco dos caras e cheio de músicas essenciais como “Pills”, “Subway Train”, “Looking For a Kiss” e “Personality Crisis”. Só para se ter uma ideia do tamanho da influência dos caras, Morrissey foi presidente do 1º fã clube dos Dolls na Inglaterra, e já declarou que aprendeu o que era Rock com a banda.

É mole?






The Sex Pistols, Never Mind The Bolocks, Here’s The Sex Pistols - 1977.


Reza a lenda que disco vendeu mil cópias quando foi lançado, mas todas aquelas mil pessoas que o compraram, após ouvi-lo, formaram bandas.

Talvez o disco mais influente do punk, Never Mind... expressou em forma de música, toda a angústia e o desalento de ser jovem e sem perspectivas na Inglaterra em 1977.

Se tu fosse rico, seria cada vez mais rico, se tu fosse pobre, estaria ferrado para o resto da vida. Johnny Rotten através de suas letras, deu voz a todos aqueles jovens que se sentiam deslocados no mundo. Além disso, Rotten atacava a realeza britânica se dó e nem piedade, além de defender o aborto e o consumo de drogas. Isso em 1977. Isso é ser punk.

Outro fator positivo do disco é guitarra influente de Steve Jones, que influenciou desde o Noel Gallagher até o Slash.







The Clash, London Calling – 1979.


Considerado uma “bíblia do Rock”, por bandas e artistas como U2, Bruce Springsteen e The Strokes, London Calling é o disco mais politizado e, musicalmente falando, mais “universal” do punk.

As letras de Joe Strummer e Mick Jones falavam da miséria da classe proletária, dos sindicatos de trabalhadores, dos abusos sofridos pelas mulheres, dos altos impostos ingleses entre outros temas.

Esse disco é “universal”, pois pela primeira vez, guitarras rápidas e letras ácidas eram envoltas em influências de gêneros tão díspares como Reggae, Soul, Ska, Pop e R&B. O Clash expandiu todas as fronteiras musicais do estilo punk, o elevando ao status de música “respeitável”, o que não acontecia até então.

“Brand New Cadillcac”, “Jimmy Jazz”, “Lost in The Supermarket”, “Spanish Bombs",  “Clapdown” e "London Calling" são canções que foram escritas há 30 anos atrás e soam mais atuais que qualquer coisa que o Coldplay venha a lançar em sua patética carreira.








Ramones, Rocket To Russia, 1977.



Eu considero a influência musical dos Ramones quase tão abrangente e tão importante quanto a dos Beatles.

Futuros membros do Clash, dos Sex Pistols e do The Jam estavam no show que eles fizeram em Londres em 1976, e após esse show, todos formaram suas respectivas bandas.

Os Ramones influenciaram todos os grupos de Rock que vieram depois deles, e não falo só dos punks, mas dos de Rock em geral. Não eram excelentes músicos, mas os Ramones conseguiam atingir aquele nível de sentimento que os pioneiros do Rock N’ Roll atingiam... não eram excelentes de técnica musical, como eu disse, mas eram perfeitos na arte de SENTIR a música... de demonstrar tesão e vontade.

E como sabemos, a vontade (ou sentimento) sempre supera a técnica.

Esse disco é o terceiro da banda e o mais popular, contendo clássicos como “Surfin Bird” (cover do grupo Thrashmen), “Rockaway Beach”, "Cretin Hop”, “I Don’t Care”, “Sheena Is a Punk Rocker” e “Teenage Lobotomy”.

Os Ramones falavam pelos jovens americanos pobres (e entediados), só que falavam de um jeito, que o jovem inglês, africano, chinês, russo ou até marciano, pudessem entender e se identificar.





Espero sinceramente, que o sobrinho do meu amigo ouça, ao menos uma vez na vida, algum destes álbuns. É capaz de mudar alguns conceitos na cabeça do guri.

Oremos.





Abraço.



2 comentários:

  1. Como sempre, uma aula em forma de texto!!!
    As vezes acho que vc quer agarrar o mau gosto das pessoas e mudar isso sozinho!!!
    Adorei, achei ótima, não ótimo mesmo!!!
    Parabéns e um abração seu maluco!!!

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    1. Valeu, galo de pouca língua! Estamos aí, combatendo o mal gosto de quem nos permite! Abs.

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