terça-feira, 17 de junho de 2014

Trovando Sobre: DISCOS INJUSTIÇADOS


Horríveis para uns, e excelentes para outros...

Geralmente quando bandas saem de sua “zona de conforto” e criam obras digamos, “diferentes” do que costumeiramente fazem, inevitavelmente, os fãs se dividem naqueles que rechaçam o trabalho, ouvindo-o uma ou duas vezes apenas, taxando o trabalho de ruim, e sem relação com a proposta da banda ou artista, e existem também, aqueles que ficam encantados com a audácia e com a ousadia da banda, ouvindo o trabalho muitas vezes antes de emitir opiniões.

Sou adepto da segunda opção.

Por esse motivo, listei aqui, alguns álbuns que merecem uma “terceira ou quarta ouvida” por parte dos fãs.

São eles:


Come Taste The Band – Deep Purple, 1975.


Saindo um pouco daquela forma hard rock, o Deep Purple incorpora elementos funk e até mesmo soul em suas canções, isto se dá, em grande parte graças ao ingresso do excepcional (e o melhor vocalista do Purple) David Coverdale, do grande guitarrista Tommy Bolin e de um dos maiores baixistas e cantores do Rock, o genial Glenn Hughes.

Hughes era um grande fã de funk, como qualquer baixista sério deveria ser, e trouxe elementos deste estilo ao som pesado do Purple, deixando assim, a banda com mais “suingue e groove”.

Os vocais de Coverdale e Hughes deixam o disco ainda mais especial, pois pela primeira vez, a banda tem cantores, e não um “gritador” (desculpa aí, Ian Gillan), mas canções como “Lady Luck”, “Dealer”, “Gettin’ Tighter” e “I Need Love” não me deixam mentir.

Acho esse disco um dos três melhores álbuns do Purple.





Odair José – O Filho de José e Maria, 1977.


Talvez a primeira (e única) “ópera Rock” brasileira.

Não sei se Odair se inspirou no álbum “Tommy”, do grupo inglês The Who, para criar este magnífico trabalho, mas o resultado ficou semelhante, com uma ressalva, os ingleses não tinham o ritmo e a ginga de Odair.

Inspirado na história de Jesus Cristo, Odair concebeu o disco como um projeto temático, onde o disco todo, seria norteado por um tema, apenas, o nascimento de Cristo.

Porém, Odair incluiu em sua “história”, críticas ferrenhas a igreja católica, e ao cristianismo, onde se posicionava totalmente a favor do divórcio, dos métodos anticoncepcionais e até mesmo do aborto!

Isto em 1977.

A igreja fez uma fervorosa campanha contra o disco, e a gravadora não se dispôs a divulgá-lo, por medo de represálias, e o álbum foi um fracasso de vendas.

Tremenda besteira! O disco é excelente do início ao fim, com letras muito boas e melodias melhores ainda.  Odair criou um dos maiores clássicos da música popular brasileira, e digo isso sem medo de errar ou exagerar.

Roberto Carlos teria de nascer de novo para criar algo parecido com esse disco.




(Music From) The Elder – Kiss, 1981.


Entre os fãs do Kiss, falar do The Elder, é quase uma heresia.

Nem a banda gosta do disco, e seus fãs, menos ainda (com exceções). Eu sou uma destas exceções.

Acho The Elder, um baita disco, e arrisco a dizer, que é um dos melhores da carreira do Kiss.

Com a saída de Peter Criss, e a entrada de Eric Carr, assumindo as baquetas, a banda estava “de fôlego novo”, e um desafio caía bem.

Coube ao produtor Bob Ezrin fazer o desafio. O Kiss era constantemente atacado pelos críticos especializados, por serem considerados músicos fracos, sem muito conhecimento e domínio de seus instrumentos e de  suas composições serem rasas e triviais.

Determinados a mudar essa concepção, o grupo resolve criar um álbum temático, onde o tema principal, seria a eterna luta do bem contra o mal (sugestão de Gene Simmons).

As canções do álbum foram meticulosamente trabalhadas e muito bem produzidas, onde pela primeira vez, se notava um preciosismo até então inédito na carreira do quarteto.

Com exceção de Ace Frehley, todos se empenharam muito no sucesso do projeto, o que não aconteceu, devido à má recepção dos fãs que queriam o “Kiss soando como Kiss”.

Eu considero o álbum um passo além na carreira dos caras, e canções como “Just a Boy”, “I”, “Dark Light” e “The Oath”, estão estre as melhores já feitas pelo Kiss.




Lulu – Metallica e Lou Reed, 2011


Para início de conversa, Lulu não é um disco do Metallica, é uma espécie de projeto de “poesia musicada”, entre a banda e o músico, poeta e gênio Lou Reed. A banda e o artista se conheceram em uma premiação de música, onde tocaram e juntos, e iniciaram uma amizade.

Reed mostrou umas poesias para a banda que as adorou, e então resolveram trabalhar juntos, onde o Metallica criaria as melodias (pesadíssimas) e Lou Reed “cantaria” de maneira despojada (na verdade, Reed declamava as letras, por cima da base musical).

Durante as sessões, o clima era dos melhores possíveis, e Reed, morreu feliz com resultado do trabalho, mesmo tendo chegado a receber ameaças de morte de alguns  fãs da banda de heavy metal. Quanta gente babaca existe nesse mundo, não é mesmo?

Acho as "poesias musicadas" do disco muito bonitas e profundas, e apesar de ser bem mais fã de Lou Reed do que do Metallica, ouço o disco sempre com muito prazer.

Dizem que quando tocaram no estúdio de gravação a canção “Junior Dad” pela primeira vez, onde Reed fala sobre um pai ausente, James Hetfield (vocalista do Metallica) foi as lágrimas.




Bob Dylan – Saved, 1980.


A fase mais criticada e menos ouvida de Dylan é a chamada “fase cristã”. E é uma das minhas “fases” favoritas. Acho que este período só perde em termos de qualidade, para a fase de transição dos anos 60 para 70.

Neste período, Dylan que havia renunciado o judaísmo, e abraçado o cristianismo com fervor (influenciado pela sua namorada na época, a cantora gospel Clydie King), frequentemente durante seus shows, discursava sobre a fé e importância de Deus.

Quando achava que não era levado a sério, ou que a platéia estava dispersa, constantemente dizia: “Isto é importante, e se vocês não compreendem o que estou dizendo, podem ir para um show do Kiss!”. Irônico, não?

Entretanto, Dylan nunca esteve tão inspirado musicalmente. Suas composições não tinham teor fanático ou de “pregação”, pelo contrário.

Dylan falava do amor, do respeito e a importância da fé e da espiritualidade, sob melodias lindas e tocantes.

Este álbum, em especial traz canções belíssimas como “What Can I Do For You”, “Covenant Woman”, “In The Garden” e “Saving Grace”.

Adquiri o álbum há alguns dias, e o ouço direto... e cada vez gosto mais.

Aleluia, Bob!




Estes foram os meus “injustiçados”, cito também os álbuns “Mob Rules” do Black Sabbath e “Pop” do U2, entre outros, que assim como os citados acima, também considero trabalhos excelentes, e que não obtiveram a devida atenção e o merecido reconhecimento.

Espero que tenham gostado.



Abraço.


2 comentários:

  1. Uma verdadeira aula sobre a história da música!!!
    Seu conhecimento é incrível, e os detalhes que vc incorpora em seus textos o tornam ainda melhores!!!!
    Sem falar que 2 textos em 1 dia pra mim é algo mágico e prazeroso!!!
    Parabéns, abs!!!!

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