No fim
da tarde, de 1º de janeiro de 1955, após uma rotina exaustiva de trabalho, Rosa
Parks, toma um ônibus em direção a sua casa. Rosa senta-se na área destinada
aos negros, conforme a lei segregacionista vigente no Alabama na época. O
ônibus em instantes lota, e um homem branco sobe no ônibus, e ordena que Rosa
levante-se para que ele possa se sentar. Ela diz “não”.
Pode
parecer pouco, mas Rosa foi presa e passou a noite na cadeia, por esta “ofensa”
moral ao porco, digo, "homem" que queria o seu lugar.
Este foi
o pontapé inicial da luta pelos direitos civis dos negros americanos, liderados
pelo reverendo Martin Luther King Jr.
Em 1965,
na cidade de Selma, também no Alabama, Annie Lee Cooper, uma enfermeira negra,
tenta se registrar para votar nas próximas eleições. Desde 1963, os negros já
tinham conquistado o direito ao voto, entretanto, tinham que se registrar para
estarem aptos. E este registro, era sempre dificultado pelas autoridades
(brancas) responsáveis.
Em zonas
afastadas, negros eram intimidados com extrema violência para que não se
registrassem ou que não votassem.
Aí temos
duas situações chave na história da luta e conquista dos direitos de igualdade
dos negros. Duas mulheres foram decisivas para que o mundo começasse a abrir os
olhos para a situação dos negros americanos e Martin Luther King foi junto com
Nelson Mandela, a figura mais emblemática na luta do povo negro por dignidade.
“Selma”,
começa mostrando uma parte da via crucis que Annie Lee passou. A partir daí, a
filme enfoca a marcha liderada por Martin Luther King, da cidade de Selma até a
capital do Alabama, Montgomery onde centenas de negros foram se registrar para
poderem votar.
O filme
é uma obra de arte intensa. O roteiro é preciso, historicamente fiel e com
diálogos extremamente bem escritos. A diretora Ava DuVernay realiza um trabalho
sutil, onde consegue extrair atuações emocionadas e viscerais do elenco.
Imagino como deve ser para um negro atuar em um filme com um tema tão forte
para a sua própria gente, como neste caso.
O ator
David Oyelowo, ao menos, deveria ter sido indicado ao Oscar pela sua
representação do “Dr. King”, como MLK era chamado. Os trejeitos, a entonação da
voz, o olhar, a linguagem corporal, estão assustadoramente parecidos com os de
MLK. O ator brilha em cada cena.
Na cena
do discurso final em Montgomery,, quando fala do seu sonho de igualdade, e na
cena do funeral do jovem assassinado pela polícia, onde vocifera: “Vocês sabem
quem puxou o gatilho e matou este menino? Todos os policiais brancos que abusam
do nosso povo. Todos os brancos que nos insultam na rua e nos lugares onde
vamos. Todos os NEGROS, que não se juntam a nossa causa. Todos que negam os
nossos direitos puxaram o gatilho da arma que matou este menino!”.
Inesquecível.
A
brutalidade mostrada quando a polícia e o exército reprimem a primeira
tentativa da marcha foi algo que me embrulhou o estômago. Ver mulheres, idosos e
jovens sendo caçados e espancados covardemente foi algo que me deu ânsia de
vômito. A reação da “plateia” branca, que vibrava a cada agressão das forças da
“lei” foi algo repulsivo e nojento de se ver. Senti vergonha.
Porém,
enquanto alguns sentiram prazer em ver aquela barbárie toda, seres humanos com
consciência, coerência e senso de justiça, viajaram até Selma, para unirem-se e
prestar solidariedade aos negros, que lutavam, não por mais direitos do que
ninguém, lutavam apenas por direitos IGUAIS aos de todo mundo. A cena onde
brancos e negros caminham de braços dados foi uma das mais belas e bem filmadas
que vi em muito tempo.
Geralmente,
ignorantes imbecis acham que negros e LGBT’s lutam por “mais” direitos. A comunidade
negra e a comunidade LGBT não lutam por MAIS direitos do que as outras pessoas
e sim, por IGUALDADE de direitos para todos.
A
atuação do ator idoso que interpreta o avô do menino assassinado também é uma
das belas que já vi até hoje. Menos é mais em certos papéis, e o veterano ator
praticamente atua como seus olhos apenas. Vale a pena prestar a atenção nele.
“Selma –
Uma Luta Pela Igualdade”, é uma representação fiel, de uma época horrível, que
acabou há pouquíssimo tempo e que deixou marcas profundas na História. É um
filme que mostra como mesmo todo a ignorância, toda a violência e toda a
injustiça, podem ser revertidas e vencidas com amor, coragem e perseverança.
Espero que assistam.
Abraço.
Abraço.
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