sexta-feira, 20 de março de 2015

Trovando Sobre: ÁLBUNS TRIBUTO.


Geralmente, quando se fala em álbuns tributo, se pensa em picaretagem. “A gravadora deve estar querendo faturar uns pilas, botando esse monte de gente para cantar as músicas dos fulanos...” é a primeira coisa que vem à cabeça.

Mas as vezes, exceções ocorre, e o álbum tributo se transforma em um trabalho de valor artístico relevante.

Confesso que sempre torço o nariz para versões de clássicos, e que majoritariamente, prefiro os originais, mas por vezes, as bandas ou artistas, conseguem acertar a medida de inovação/respeito, dando uma nova personalidade a música revisitada.

Hoje vou citar cinco acertos. São eles:





Concert For George, 2002.


Realizado um ano após o falecimento do “beatle quieto”, este mega evento foi uma espécie de memorial à vida e a obra deste que foi um dos maiores guitarristas, compositores e cantores da história deste planeta. Junto com os Beatles, ou em sua brilhante carreira solo, George Harrison mudou a música.

O concerto organizado por Eric Clapton (Clapton também foi o diretor musical do evento) é algo surreal em termos de qualidade no quesito convidados. Paul McCartney, Ringo Starr, Tom Petty, Jeff Lynne, Billy Preston, Ray Cooper, Jim Keltner, além do Monty Python e do filho e clone de George, Dhani Harrison.

As versões das canções de Harrison são de um bom gosto, de uma qualidade e de uma carga emocional contagiantes.  “Isn’t a Pitty”, “All Things Must Pass”, “Here Comes the Sun”, “Give Me Love”, “My Sweet Lord”, e “While My Guitar Gently Weeps” são alguns dos “tesouros” de George tocados na celebração.




Last Man Standing – 2006.

O primeiro punk da história, um senhor quase octogenário resolvendo lançar um disco de covers/tributo a grandes canções do Rock N’ Roll? Hum, será que poderia dar certo? Será que o “Killer” ainda pegada?

Pensei nisto quando antes de ouvir este disco na época de seu lançamento.
Deu muito certo. O “Killer”, AINDA tem mais pegada do que QUALQUER banda “mudééérna hype” atual. As flatulências de Jerry Lee são mais rockeiras do que o Avenged Sevenfold jamais será em sua carreira.

O que este senhor faz com “Rock N’ Roll” (Led Zeppelin), “Pink Cadillac” (Bruce Springsteen, “I Saw Her Standing in There” (Beatles), “Travelin’ Band” (Creedence) e “Evenig Gown” (Mick Jagger, só para citar algumas músicas do disco, deveria ser obrigatoriamente estudado por qualquer pessoa que pense saber do que se trata o Rock N’ Roll.

Jerry Lee Lewis pegou canções de seus “alunos”, e as incorporou de tal forma, que ele as tomou para si, como se ele mesmo as tivesse escrito. E alguns desses “alunos’ convidados do disco são Neil Young, Ringo Starr, Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood, Rod Stewart, Willie Nelson, Robbie Robertson e Jimmy Page. Alguns “professores”, do mesmo quilate de Jerry Lee também foram chamados como BB King, Mavis Staples, Merle Haggard e Little Richard. Não tenho nem noção do quanto prestígio esse senhor tem para reunir um time desses para participar de um álbum.

Tenho um dvd, onde Jerry executa as canções do disco ao vivo, e é simplesmente lindo ver o orgulho dos “alunos” e colegas, sendo regravados pelo “professor”.




We’re a Happy Family: A Tribute to Ramones, 2003.


Um time peso pesado prestando homenagem a terceira banda mais influente do Rock (depois de Beatles e Stones).

U2, Red Hot Chili Peppers, Kiss, Metallica, Green Day, Pretenders, Marilyn Manson, Eddie Vedder, Rob Zombie e Tom Waits, são alguns dos participantes deste álbum, contendo covers excelentes dos músicos punks de Nova Iorque.

Hinos como “Beat on a Brat”, “Havana Affair”, “Do You Remember Rock N’ Roll Radio”, “53rd & 3rd”, “Outsider”, “Something to Believe In”, “The KKK Took My Baby Away” e “I Believe in Miracles” sendo tratadas com o devido respeito e a devida reverência, e com a dose certa de tesão dos envolvidos é algo muito legal de se ouvir.

Não há sequer, uma música ruim no álbum.




Nativity in Black: A Tribute To Black Sabbath, 1994.


Eu estava no segundo grau, quando saiu este disco. Eu estudava no centro de São Leopoldo, colégio Visconde, e eu estava em uma das fases mais rebeldes e selvagens da minha juventude. Diversão era o meu mantra.

Lembro que meu grupo de amigos e eu, gostávamos do Sabbath, e ainda mais do Ozzy na sua fase de carreira solo, mas quando “N.I.B.”, saiu, foi uma unanimidade. Todo mundo gostou e todo mundo tinha, seja em cd, ou gravado em fita K7. Todo mundo ouviu.

Alguns amigos, inclusive, acharam, por exemplo, que as versões do Megadeth para “Paranoid”, do Bruce Dickinson para “Sabbath Bloody Sabbath”, do Sepultura para “Sympton of The Universe” e do Type O’ Negative para “Black Sabbath”, superavam as versões originais. Um tremendo exagero, apesar das versões destas bandas serem realmente excelentes.

Para muitos, este disco foi a porta de entrada para um conhecimento mais aprofundado da obra magnífica dos pais do heavy metal.
E isso por si só, já é um tremendo feito.




Spaghetti Incident, 1993.


“Uma grande canção pode ser encontrada em qualquer lugar. Faça um favor a você mesmo, e procure as canções originais”.

Esta frase está escrita no encarte do último disco de estúdio da formação clássica do GNR. Demonstra grande humildade e respeito da banda com seus homenageados.

Considerado pela crítica, como um álbum fraco, desnorteado e perdido, frequentemente Spaghetti Incident é taxado como “fiasco” por alguns “entendidos”. Quem pensa assim, provavelmente, considera o Coldplay “Rock”, e acha que a Madonna realmente escreve suas (risíveis) canções.

Spaghetti Incident é um fenomenal álbum de Rock, um trabalho de um patamar altíssimo, onde o Guns mostra suas raízes de maneira íntegra e precisa.

Das treze canções do disco, nove são covers de bandas punk. Contrariando alguns “espertos”, que consideram o punk inferior, ou que o Guns era uma limitadamente, uma banda de Hard Rock. Neste disco, o Guns mostrou ser bem mais do que rotulagens burras.
Reza a lenda, que a banda queria lançar o Spaghetti Incident, logo após o álbum de estreia, o clássico Apetitte For Destruction, ou seja, antes dos igualmente clássicos Use Your Ilusion I e II.

A voz de Axl Rose em “Ain’t It Fun” (que conta com Michael Monroe, vocalista do Hanoi Rocks nos backing vocals) nunca soou mais rasgada e raivosa. “Down on The Farm” (UK Subs), “Black Leather” (The Professionals), e “Hair of The Dog” (Nazareth) são outros exemplos do grande momento que Axl Rose vivia como cantor.

“Since I Don’t Have You” foi o grande sucesso comercial do disco, sendo uma regravação do grupo The Skyliners, lançada originalmente e, 1958.

Duff McKgan brilha cantando “Attitude” dos Misfits, “New Rose” do The Damned e especialmente em “You Can’t Put Your Arms Around a Memory”, uma belíssima balada escrita por seu maior ídolo, o guitarrista Johnny Thunders, falecido membro do New York Dolls.

Slash e Gilby Clarke formavam uma combinação perfeita de entrosamento entre guitarristas, já que eram amigos há muito tempo, e ainda são até hoje, tocando a até mesmo, fazendo turnês juntos. Os guitarristas deitam e rolam em canções como “Buick Makane/Big Dumb Sex”, dobradinha de T. Rex com Soundgarden e “Human Being” dos New York Dolls.

A mancada do disco ficou por conta da regravação da baladinha insossa “Look at Your Game Girl”, composta pelo maníaco homicida Charles Manson. Axl se arrependeu da “cagada”, e as novas edições do disco, não contém a faixa.


Estes foram os melhores álbuns tributos na minha opinião.



Espero que os ouçam, mas não se esqueçam: Procurem sempre os originais.


Abraço.






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