Existem coisas que eu adoraria fazer e talvez, nunca
consiga. Adoraria ir a Memphis, adoraria ir a Liverpool e a Manchester,
adoraria conhecer a Angelina Jolie, adoraria ver o Corinthians cair para a 4ª
divisão, adoraria dar uma porrada no Danilo Gentili, enfim, coisas que eu
gostaria de realizar em vida, mas que provavelmente, eu não consiga.
Um outro desejo que sempre tive, foi ler a mini – série “Testamento”,
lançada nos EUA em 2009, sobre Erick Magnus Lansherr, ou Max Eisenhardt
(provavelmente, o personagem mudou de nome para evitar perseguições, durante e pós 2ª
guerra), mais conhecido como o mestre do magnetismo, o grande Magneto. E graças a
um grande amigo, que me presenteou com a edição encadernada (e linda) da mini
série, esse desejo então, eu pude realizar. A revista foi relançada aqui no Brasil, neste
formato encadernado, mas não a comprei quando saiu, então ela virou item de
colecionador, com um preço bem salgado... mas quem tem amigos, tem tudo certo?
A história roteirizada por Greg Pak, e desenhada por
Carmine Di Giandomenico é uma das obras mais profundas e impactantes que já li
na vida. Eu leio histórias em quadrinhos desde que fui alfabetizado, e a
experiência de ler este material, foi uma das mais prazerosas que já tive. O
texto é incrivelmente bem escrito e prende o leitor de uma maneira, que ao
terminar um capítulo, tu fica ansiosíssimo para ler o próximo.
O gibi conta os horrores da ascensão do 3º Reich na
Alemanha, e que logo tomou a Europa de assalto. Assim que Hitler assume o poder
como estadista alemão, e o nazismo é implementado e vira o regime majoritário
de política (e dominação), a perseguição a judeus, imigrantes, e outros povos
que não os “arianos”, se inicia de forma devastadora.
A partir daí, vemos o mundo com os olhos do jovem Magneto.
Magneto é um menino em 1935, com nove anos de idade, e
ainda desconhece seu poder mutante (ele sabe que é diferente dos demais, mas não
compreende bem como e por que), e se chama Max Eisenhardt e é de família alemã –
judia. Seu pai é veterano da 1ª Guerra Mundial, tendo sido inclusive,
condecorado por bravura.
Constantemente perseguido e humilhado por seus colegas de classe, apenas por ser um aluno brilhante, Max sente o preconceito na pele
desde cedo, pois chega a ser expulso da sua escola, apenas por ser judeu. As
cenas onde, para impressionar a sua primeira paixão, uma menina chamada Magda, que
é filha da servente, Max se sobressai em uma prova de arremesso de dardos
(metálicos), são cheias de emoção. Talvez um dos primeiros momentos na vida do
jovem mutante, em que ele usa seu poder.
Logo a perseguição que Max sofre, atinge a família inteira.
Seus pais, sua irmã Ruth e seu tio Erick, fogem para a Polônia, onde acreditam
estar a salvo do nazismo. Porém, pouco tempo após chegarem lá, são capturados,
e em outra cena antológica, Max usa seu poder, para salvar sua vida, mas o
mesmo não acontece com sua família, que é fuzilada por um pelotão da SS.
Apesar de conseguir escapar da execução, Max é mandado para “o inferno na Terra”,
conhecido por Auschwitz. O campo de concentração, onde cerca de 1,6 milhões de judeus, “ciganos” e outros, foram
mortos em câmaras de gás. Lá, o menino é designado para trabalhar recolhendo
pertences de cadáveres que irão para os fornos, e por vezes, ele também tem de
empilhar os cadáveres que serão ou queimados nos fornos, ou em fogueiras imensas à céu aberto.
Constantemente, Max reconhece cadáveres de parentes e amigos, dentre os quais,
ele deve empilhar e atear fogo, entre outras tantas humilhações e privações, impostas pelo regime nazista.
É incrível perceber como um menino puro e bondoso, se torna
o líder mutante mais cruel de todos, que prega uma ideologia bastante
semelhante com a do nazismo. Magneto alega que os mutantes, são “o próximo
passo na evolução da espécie”, e que ao contrário do que pensa Charles Xavier,
mutantes e humanos não são semelhantes. Mutantes são superiores e devem governar os
humanos, crê Magneto.
Como pode, uma pessoa que viu o que viu e que passou por tamanhas
atrocidades, em nome de uma ideologia insana, tentar repetir com os outros, o que
fizeram com ele. Como pode o mal mudar tanto assim, o coração de um homem? Ao me
questionar, após a leitura da história, lembrei – me de Nietzche, que dizia algo
mais ou menos assim: “É preciso muito cuidado quando se encara o abismo, pois
assim como o encaramos, ele também nos encara.”. Ao ter contato com monstros, ou ao combatê-los, é preciso cautela, para que não nos tornemos, igualmente, monstros.
Em outro momento sublime da história, Max, certo de que não
viveria muito, enterra em um certo local, uma garrafa, com um bilhete que diz: “Espero
que este horror nunca mais se repita com ninguém.” Este é o "testamento", do título.
Magneto – Testamento, é uma triste história, sobre o
poder destruidor da maldade.
“Lembre –se Max, o prego que mais se sobressai, é sempre o que mais
leva marteladas.”
Espero que gostem.
Abraço.
Demais, muito bom o texto, um dos meus preferidos.
ResponderExcluirMuito legal ver vc falando com tanto gosto assim da história e mostrando como uma criança normal se tornou um dos maiores vilões da história.
E que vc siga realizando essas vontades para escrever mais e mais aqui.
Parabéns e abraço!!!
Loka, obrigado pelas palavras... mas não o considero um "vilão"... apesar de ele até poder ser um... valeu por tudo. Abração, lambis.
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