quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Trovando Sobre: MAGNETO – TESTAMENTO.


Existem coisas que eu adoraria fazer e talvez, nunca consiga. Adoraria ir a Memphis, adoraria ir a Liverpool e a Manchester, adoraria conhecer a Angelina Jolie, adoraria ver o Corinthians cair para a 4ª divisão, adoraria dar uma porrada no Danilo Gentili, enfim, coisas que eu gostaria de realizar em vida, mas que provavelmente, eu não consiga.

Um outro desejo que sempre tive, foi  ler a mini – série “Testamento”, lançada nos EUA em 2009, sobre Erick Magnus Lansherr, ou Max Eisenhardt (provavelmente, o personagem mudou de nome para evitar perseguições, durante e pós 2ª guerra), mais conhecido como o mestre do magnetismo, o grande Magneto. E graças a um grande amigo, que me presenteou com a edição encadernada (e linda) da mini série, esse desejo então, eu pude realizar. A revista foi relançada aqui no Brasil, neste formato encadernado, mas não a comprei quando saiu, então ela virou item de colecionador, com um preço bem salgado... mas quem tem amigos, tem tudo certo?

A história roteirizada por Greg Pak, e desenhada por Carmine Di Giandomenico é uma das obras mais profundas e impactantes que já li na vida. Eu leio histórias em quadrinhos desde que fui alfabetizado, e a experiência de ler este material, foi uma das mais prazerosas que já tive. O texto é incrivelmente bem escrito e prende o leitor de uma maneira, que ao terminar um capítulo, tu fica ansiosíssimo para ler o próximo.

O gibi conta os horrores da ascensão do 3º Reich na Alemanha, e que logo tomou a Europa de assalto. Assim que Hitler assume o poder como estadista alemão, e o nazismo é implementado e vira o regime majoritário de política (e dominação), a perseguição a judeus, imigrantes, e outros povos que não os “arianos”, se inicia de forma devastadora.

A partir daí, vemos o mundo com os olhos do jovem Magneto.


Magneto é um menino em 1935, com nove anos de idade, e ainda desconhece seu poder mutante (ele sabe que é diferente dos demais, mas não compreende bem como e por que), e se chama Max Eisenhardt e é de família alemã – judia. Seu pai é veterano da 1ª Guerra Mundial, tendo sido inclusive, condecorado por bravura.

Constantemente perseguido e humilhado por seus colegas de classe, apenas por ser um aluno brilhante, Max sente o preconceito na pele desde cedo, pois chega a ser expulso da sua escola, apenas por ser judeu. As cenas onde, para impressionar a sua primeira paixão, uma menina chamada Magda, que é filha da servente, Max se sobressai em uma prova de arremesso de dardos (metálicos), são cheias de emoção. Talvez um dos primeiros momentos na vida do jovem mutante, em que ele usa seu poder.

Logo a perseguição que Max sofre, atinge a família inteira. Seus pais, sua irmã Ruth e seu tio Erick, fogem para a Polônia, onde acreditam estar a salvo do nazismo. Porém, pouco tempo após chegarem lá, são capturados, e em outra cena antológica, Max usa seu poder, para salvar sua vida, mas o mesmo não acontece com sua família, que é fuzilada por um pelotão da SS.

Apesar de conseguir escapar da execução, Max é mandado para “o inferno na Terra”, conhecido por Auschwitz. O campo de concentração, onde cerca de 1,6 milhões de judeus, “ciganos” e outros, foram mortos em câmaras de gás. Lá, o menino é designado para trabalhar recolhendo pertences de cadáveres que irão para os fornos, e por vezes, ele também tem de empilhar os cadáveres que serão ou queimados nos fornos, ou em fogueiras imensas à céu aberto. Constantemente, Max reconhece cadáveres de parentes e amigos, dentre os quais, ele deve empilhar e atear fogo, entre outras tantas humilhações e privações, impostas pelo regime nazista.


É incrível perceber como um menino puro e bondoso, se torna o líder mutante mais cruel de todos, que prega uma ideologia bastante semelhante com a do nazismo. Magneto alega que os mutantes, são “o próximo passo na evolução da espécie”, e que ao contrário do que pensa Charles Xavier, mutantes e humanos não são semelhantes. Mutantes são superiores e devem governar os humanos, crê Magneto.

Como pode, uma pessoa que viu o que viu e que passou por tamanhas atrocidades, em nome de uma ideologia insana, tentar repetir com os outros, o que fizeram com ele. Como pode o mal mudar tanto assim, o coração de um homem? Ao me questionar, após a leitura da história, lembrei – me de Nietzche, que dizia algo mais ou menos assim: “É preciso muito cuidado quando se encara o abismo, pois assim como o encaramos, ele também nos encara.”. Ao ter contato com monstros, ou ao combatê-los, é preciso cautela, para que não nos tornemos, igualmente, monstros.

Em outro momento sublime da história, Max, certo de que não viveria muito, enterra em um certo local, uma garrafa, com um bilhete que diz: “Espero que este horror nunca mais se repita com ninguém.” Este é o "testamento", do título.

Magneto – Testamento, é uma triste história, sobre o poder destruidor da maldade.


“Lembre –se Max, o prego que mais se sobressai, é sempre o que mais leva marteladas.”




Espero que gostem.




Abraço.

2 comentários:

  1. Demais, muito bom o texto, um dos meus preferidos.
    Muito legal ver vc falando com tanto gosto assim da história e mostrando como uma criança normal se tornou um dos maiores vilões da história.
    E que vc siga realizando essas vontades para escrever mais e mais aqui.
    Parabéns e abraço!!!

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    1. Loka, obrigado pelas palavras... mas não o considero um "vilão"... apesar de ele até poder ser um... valeu por tudo. Abração, lambis.

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