quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Trovando sobre: TRUE DETECTIVE.




Eu raramente assisto séries. Não gosto de passar meses, ou até mesmo anos, seguindo uma história que devia ter acabado antes de se tornar confusa e repetitiva, como geralmente acontece com séries longas. E atualmente, como a maioria dos seriados ou são sobre reinos encantados com dragõezinhos e muita putaria, ou vampiros de gel no cabelo, ou sobre zumbis inteligentes em decomposição, eu realmente não tenho saco para assistir este tipo de coisa.

Mas como já havia dito aqui no blog, se o André Barcinski indica, vale a pena dar uma conferida. E dias atrás, o “Barça” indicou True Detective, mesmo alegando que assim como eu, detesta séries.

True Detective é curtinha, oito episódios, com uma hora de duração cada. E basta.

Desde o início dos anos 90, quando assisti a série policial Twin Peaks, eu não via algo tão bem escrito, dirigido, produzido e atuado, como True Detective. Inclusive, por ter sido extremamente longa, Twin Peaks, depois de um certo tempo, “se perdeu na poeira”, e ficou chata e monótona.

O que em nenhum momento acontece com True Detective é monotonia. A série é dinâmica, ágil e prende o expectador desde os dois minutos iniciais até os cinquenta e nove minutos do episódio oito, o último da série.

A saga dos detetives Rustin Cohle e Martin Hart é imprevisível, interessante, instigante e totalmente sombria. Exatamente como o mundo real. Fantasia de vez em quando é bom, mas fantasia demais vira alienação, e o cérebro precisa se exercitar, certo?

Os “detetives verdadeiros”, são incumbidos de investigar o assassinato de uma jovem prostituta, assassinato este, com requintes de ritual de magia negra, coisa um tanto quanto “comum”, na Louisiana, onde se passa o seriado. O Estado que frequentemente sofre com furacões, pobreza e intolerância é outro personagem da série... cultos itinerantes, igrejas sombrias, grandes campos de plantações, dão o tom exato de morbidez para a história.

A história se passa em 2012, mas o caso do assassinato foi em 1995, sendo "encerrado" em 2012. A trama engloba um período de 17 anos ao total.



Ao investigar o assassinato da prostituta, “Rust” e “Marty”, vão (literalmente) entrando em uma espiral de assassinatos em série, violência, pedofilia, depravação e cultos de adoração ao Diabo, cultos que podem envolver grandes personalidades e até mesmo autoridades de dentro e de fora do Estado da Louisiana. Macabro.

As atuações de Matthew McCounaghey e Woody Harrelson são nada menos do que brilhantes. Li em alguns lugares, que é o papel da vida de McCounaghey. Não duvido. Ambos os protagonistas, também são produtores executivos da série, ou seja, investiram dinheiro do próprio bolso no projeto, e eu os aplaudo por isto.


Matthew McCounaghey interpreta Rustin "Rust" Cohle, um cara totalmente sem fé em absolutamente nada. Rust não crê em amizade, em amor, em Deus, em ódio, em sobriedade. Rust é uma espécie de morto vivo, que caminha entre nós, apenas com o intuito de mostrar aos outros seres humanos, o quanto somos patéticos, frágeis e ridículos em nossa existência neste planeta.

As cenas do episódio em que ele e Marty vão a um culto evangélico itinerante, interrogar um fiel e o pastor, são de “chorar” de tão perfeitas. Rust ridiculariza a catarse que este tipo de culto causa nas pessoas, dando uma explicação detalhada e lúdica de como o charlatanismo anda lado a lado com o “trabalho de libertação” que estes “homens de Deus” realizam. Rust chega a questionar o QI do “rebanho” do pastor. Uma coisa linda de se assistir.


“Se a única coisa que mantém uma pessoa decente, é a expectativa de uma recompensa divina, então, meu amigo, essa pessoa não vale nada”.



Achei a atuação de McCounaghey excelente durante toda a série, até mesmo porquê, ele é o condutor da trama toda. A cena final, onde Rustin Cohle tem uma epifania, e digamos, recupera parte de sua fé, é dificílima, e imagino que o ator deve ter tido um imenso trabalho de interpretação (apesar de eu achar não ser o melhor momento do personagem). As cenas onde o personagem conduz interrogatórios, e na já citada cena do culto, são antológicas. Isso sem contar as frases de efeito de Rust, que são um “guia para a vida”. Rustin se vê como um realista, mas sabe que as pessoas o enxergam como um “pessimista”.

Para mim, o grande trunfo da série é o personagem Martin "Marty" Hart, interpretado por Harrelson. Quanto a McCounaghey, eu não sei ao certo, mas com certeza, Woody Harrelson, interpreta o personagem mais importante de sua ótima e bem sucedida carreira.

Vi que muitas pessoas teceram elogios ao personagem Rustin Cohle, mas na minha visão, Cohle, apesar de genial, era muito “perfeito”, muito austero, quase que sem defeitos, ao contrário do detetive Martin Hart, um beberão, violento (apesar de se considerar um cristão atuante), adúltero e bonachão.

A atuação de Harrelson é tão perfeita por ser sutil. Marlon Brando dizia que atuar de forma sutil, dizendo cinco palavras ao invés de dez, é o tipo de atuação mais impactante que existe, e é exatamente isso que a performance de Woody Harrelson é... impactante.

Li em um outro texto que a família de Hart representa a sociedade, não como sempre a vemos, como ela é nas suas entranhas, e eu concordo plenamente com isto.

O detetive Hart é um ser humano hipócrita, cheio de pré conceitos, preguiçoso, egoísta, vaidoso, ególatra e com uma visão estreita de mundo e de convívio social, mas que se acha apto a opinar sobre qualquer assunto, ou desdenhar qualquer opinião contrária a sua.

“Todo mundo julga, o tempo todo. Agora, se você tem um problema com isso... você está vivendo errado.”

Martin Hart é como nós, humanos somos. Igualzinho.

Hart acha um absurdo que homens paguem para transar com uma prostituta da idade de sua filha mais velha, e chega até a lhe dar dinheiro e a aconselhar a sair “da vida”, mas em contrapartida, trai a esposa com meninas da mesma idade da jovem prostituta. Martin é daquele tipo de pessoa que doa R$ 10,00 ao “Criança Esperança”, e conta para todos os amigos sobre o seu “nobre gesto”. Hart não ajuda ninguém, ele apenas alivia a sua própria consciência, como a maioria de nós faz, ao praticar caridade e divulgar o gesto. Hart não é solidário, ele é “caridoso”.




“Pessoas incapazes de culpa, geralmente se divertem”.


Recomendo a todos que assistam ao seriado, serão horas que talvez por certos momentos não serão agradáveis, mas que se tornarão muito recompensadoras ao término do oitavo e último episódio.

Também recomendo a leitura do texto no link abaixo, para uma compreensão mais ampla das simbologias que aparecem durante a jornada dos detetives. Mas advirto que a leitura deve ser feita somente após que toda a série seja vista, já que o texto contém vários "spoilers".

http://danizudo.blogspot.com.br/2014/05/um-significado-mais-profundo-da-serie.html


A série volta ano que vem, com novos atores e nova história. Vou assistir a cargo de curiosidade, mas assim como Rustin Cohle, assistirei não acreditando que a primeira temporada possa ser superada.



“O mundo precisa de homens maus. Nós afastamos os outros homens maus”.



Espero que gostem.




Abraço.

2 comentários:

  1. PERFEITO meu maluquinho.
    Vc retratou a série muito bem, detalhou bem, adoro esses seus textos assim, compreendo muito melhor a história depois de ler seus textos.
    A série é demais mesmo, concordo com tudo que o amigo disse, os diálogos são algo...
    Tmbm assistirei a 2ª temporada, porém creio não ser tão bem dirigida e atuada, acho que não conseguirão colocar esse clima pesado novamente, mas é melhor assim, caso seja inferior já estamos preparado e caso seja superior será uma grande surpresa.
    Parabénssss, arrazou amiga!!!
    Abs!!!

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    1. Obrigado, maluka. Gostei de assistir e de escrever sobre True Detective. Espero que ao menos, a segunda temporada seja "digna". Abraço, mocreia.

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