Sou um grande fã dos textos do colunista André Barcinski.
Não concordamos sempre, um exemplo disso é quando ele cita suas bandas favoritas como as melhores “bandas
de todos os tempos” (acho que só temos em comum, na área musical, o amor pela
obra de Neil Young).
Mas quando o André pára para escrever sobre cinema, aí é uma
aula... Acho que o André é um dos melhores críticos de cinema do Brasil, se não for o melhor.
Quinta-feira passada, eu estava lendo um texto dele sobre “um
documentário que estragaria a noite de qualquer pessoa”. Fiquei
muito curioso, sobre o documentário, chamado “Dear Zachary – A Letter To a Son
About His Father”, ou em português: “Querido Zachary – Uma Carta para um Filho
sobre Seu Pai”.
Eu tinha outros planos para quinta-feira à noite. Outros
filmes para ver, enfim, outros planos.
Mas eu realmente fiquei instigado a ver o filme (muito
obrigado, André Barcinski).
O documentário conta a trajetória de Andrew Bagby, médico
que foi assassinado pela ex namorada que estava grávida dele e que fugiu para o
Canadá. Através de entrevistas, o diretor tenta mostrar ao filho de Andrew (o
Zachary do título), quem era o pai dele.
O que eu assisti (no Youtube, completamente legendado), é uma
obra de Arte sobre o “muito e muita”.
Eu explico.
Muito amor de um amigo (e amigos):
O diretor Kurt Kuenne
fez o documentário, na expectativa de mostrar ao filho de seu grande amigo,
Andrew Bagby, o quanto o pai do menino era especial, o quanto ele era amado e
querido, o quanto ele iria fazer falta neste planeta.
Andrew Bagby e Kurt eram amigos de infância, se conheceram
ainda meninos e cresceram juntos fazendo filmes, brincando e sonhando. A cena
onde o diretor mostra um vídeo amador dos dois, ainda guris, “brincando de fazer
cinema” e Andrew diz ao amigo: “Vamos criar uma máquina do tempo, e se um dia,
se você morrer, eu vou voltar do futuro e impedir que isso aconteça”, acabou
comigo... É muito difícil assistir ao
filme sem literalmente, derramar algumas lágrimas.
Kurt Kuenne entrevista os pais, colegas, amigos, parentes e
pessoas próximas de Andrew, onde sem filtros, as pessoas falam sobre o cara. É
tocante ver como ele era amado por todos, como ele sempre era chamado para ser padrinho de casamento dos amigos, e como ele tinha um carisma incrível (Andrew
era o tipo de cara que se tu trocasse duas palavras com ele, tu já percebia o
quanto legal ele era).
A entrevista da ex namorada, que era o seu grande amor, foi
algo muito triste de se assistir também. Dá para notar que ela se sentia
culpada pelo que aconteceu, por eles terem rompido e ele ter se envolvido com a
psicopata que lhe tiraria a vida.
Muito ódio e maldade:
Não sei onde eu li
que o “maior feito do Demônio é fazer com que as pessoas pensem que ele não
existe”.
Eu concordo plenamente com isto.
Como podemos crer na possibilidade da existência de Deus,
sem que o seu “inimigo” exista?
A existência de Shirley Turner só pode ser explicada como
obra demoníaca. Só assim.
Mãe de três filhos de pais diferentes, e totalmente relapsa
e indiferente com os filhos, Shirley era médica e colega de Andrew.
Essa psicopata e maníaca depressiva atirou cinco vezes em
Andrew, após ele romper o namoro com ela, e após o crime, fugiu para a sua terra
natal, o Canadá e lá foi de forma surreal, amparada por juízes e médicos, que a
consideravam “doente e inofensiva”. Um psiquiatra designado para avaliá-la, chegou a declarar que “ela não
representava perigo à sociedade, pois ela não odiava as demais pessoas, apenas
aquela pessoa que ela matou”.
Estou falando sério, o psiquiatra escreveu isto em uma recomendação de fiança para uma assassina!
Estou falando sério, o psiquiatra escreveu isto em uma recomendação de fiança para uma assassina!
Sem dinheiro para pagar um advogado, ela escreveu para um
juiz, que inacreditavelmente, não só
respondeu, como a instruiu de que formas, ela poderia e deveria apelar pela sua
soltura!
Mas o que mais me revoltou, foi a audiência de liberdade
provisória, onde uma juíza canadense, tratava a CRIMINOSA como “Dra. Turner”, e de forma
revoltante, não ouviu os pais de Andrew, e ainda os ignorou, para momentos depois, libertar a assassina.
No fim do documentário, quando o diretor tenta entrevistar os responsáveis pela liberdade da criminosa, e só recebe desculpas furadas para que não sejam concedidas entrevistas, o nível de indignação com a "justiça" canadense chega ao ponto máximo... E cheguei a pensar que só em países ditos de "terceiro mundo", como o Brasil injustiças dessa natureza aconteciam.
No fim do documentário, quando o diretor tenta entrevistar os responsáveis pela liberdade da criminosa, e só recebe desculpas furadas para que não sejam concedidas entrevistas, o nível de indignação com a "justiça" canadense chega ao ponto máximo... E cheguei a pensar que só em países ditos de "terceiro mundo", como o Brasil injustiças dessa natureza aconteciam.
Shirley Turner era demoníaca. Assista ao documentário e
veja. Ouça a voz dela. Veja o rosto dela. Eu afirmo isto sem dúvidas... Aquela
criatura era a maldade encarnada.
Muita coragem e muita bondade:
Após o assassinato do filho, os pais de Andrew, David e Kate
tem que conviver com a assassina, pois mesmo depois de todo o sofrimento que a
criminosa traz a família Bagby, os avós querem e precisam conviver com o neto recém
nascido. Apesar de toda a dor, raiva, ódio e desprezo que sentem pela
assassina, eles precisam se submeter a exigências ridículas que ela impõe para
que ela se “sinta segura em deixar o seu bebê com o avô e a avó”. Eu juro por
Deus, que raras vezes, senti tanto ódio de uma pessoa, sem nem ao menos
conhecê-la.
Os Bagby’s se sujeitam a tudo isto, enquanto lutam para
colocar a assassina na cadeia e conseguir a guarda do neto.
Até que o que ninguém esperava acontece.
Após ser recusada por outro amante, Shirley mata Zachary e se
suicida. Eu suspeitava que isso poderia acontecer, mas foi um choque. É o tipo de
coisa que tu não acredita... Que tu tem que voltar e rever para acreditar.
Nesse ponto, o diretor diz que se perguntou se ali não seria
o fim. Se ali não seria a hora de encerrar o projeto, pois sem Zachary, qual
seria o propósito de seguir adiante?
Então, ele direciona o documentário para os pais de Andrew,
com o propósito de mostrar a luta de David e Kate para que pessoas que sejam
suspeitas de cometerem assassinatos não tenham direito à fiança e a liberdade
provisória. Ele também presta um lindo e
tocante tributo ao amor e a bondade que são a base do caráter do casal.
O casal Bagby combate a imoralidade, a sujeira, a indecência, o desrespeito, e a maldade com sentimentos opostos a estes.
Os Bagby’s não são seres humanos. Não podem ser. Seres humanos não são assim.
Seres humanos não sentem e não agem como eles agiram. Este casal é sobre
humano. Sua força, amor e decência não são deste planeta.
Em outro momento, o diretor mostra o funeral de Zachary e um
dos amigos de Andrew diz a Kate e David: “Vocês podem achar que perderam um
filho e um neto, mas estão errados. Todos aqui, amam vocês dois, todos aqui, de
certa forma, foram criados por vocês dois. Então todos aqui, são filhos e netos
de vocês dois. Vocês tem muitos filhos e netos, por isso, eu digo que
precisamos de vocês, e que amamos profundamente vocês dois”. Foi uma das coisas
mais bonitas que eu já vi e ouvi na minha vida.
Eu não consegui dormir direito após assistir ao filme. O sono
custou horas para chegar. Eu não conseguia parar de pensar nos Bagby’s e no
sofrimento que sentiram e que provavelmente, sentirão até o fim de seus dias.
Mas aí, pensei na força descomunal do casal para seguir adiante, para viver e lutar pelos direitos de OUTRAS PESSOAS, pessoas que eles não conhecem, mas que de certa forma, são amadas e serão protegidas pelos atos e pela luta deles.
Mas aí, pensei na força descomunal do casal para seguir adiante, para viver e lutar pelos direitos de OUTRAS PESSOAS, pessoas que eles não conhecem, mas que de certa forma, são amadas e serão protegidas pelos atos e pela luta deles.
Aí, o sono veio.
O propósito da Arte é mexer com a cabeça das pessoas. Tu
pode não gostar, tu pode adorar, o que não pode de maneira alguma acontecer, é
ficar indiferente ao que te é apresentado.
É impossível ficar indiferente a história de Andrew,
Zachary, Kate e David Bagby.
Abraço.
Perfeita retratação do documentário, o amigo passa toda emoção e ódio sentidos por quem o assiste. É difícil de ler seu texto, tendo olhado o documentário pois vc retrata os principais pontos.
ResponderExcluirEstá perfeito, tecnicamente é seu melhor texto.
Abração.
Muito obrigado, Ariel de Castro. Que bom que gostou... Como te disse, acho que as mesmas coisas que me sensibilizam, sensibilizam a ti também. Abração.
ResponderExcluirGrande Sandro,
ResponderExcluirEstava com saudade de visitar o seu blog!
Muito bom o seu texto. Você escreve muito bem!
Estou curioso para assistir ao filme!
Um forte abraço!
Grande fratello! A casa é sua! Abração.
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