segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Trovando sobre: O MELHOR DOCUMENTÁRIO QUE JÁ ASSISTI...



Sou um grande fã dos textos do colunista André Barcinski. Não concordamos sempre, um exemplo disso é quando ele cita suas bandas favoritas como as melhores “bandas de todos os tempos” (acho que só temos em comum, na área musical, o amor pela obra de Neil Young).

Mas quando o André pára para escrever sobre cinema, aí é uma aula... Acho que o André é um dos melhores críticos de cinema do Brasil, se não for o melhor.

Quinta-feira passada, eu estava lendo um texto dele sobre  “um documentário que estragaria a noite de qualquer pessoa”. Fiquei muito curioso, sobre o documentário, chamado “Dear Zachary – A Letter To a Son About His Father”, ou em português: “Querido Zachary – Uma Carta para um Filho sobre Seu Pai”.

Eu tinha outros planos para quinta-feira à noite. Outros filmes para ver, enfim, outros planos.
Mas eu realmente fiquei instigado a ver o filme (muito obrigado, André Barcinski).

O documentário conta a trajetória de Andrew Bagby, médico que foi assassinado pela ex namorada que estava grávida dele e que fugiu para o Canadá. Através de entrevistas, o diretor tenta mostrar ao filho de Andrew (o Zachary do título), quem era o pai dele.
O que eu assisti (no Youtube, completamente legendado), é uma obra de Arte sobre o “muito e muita”.

Eu explico.


Muito amor de um amigo (e amigos):


 O diretor Kurt Kuenne fez o documentário, na expectativa de mostrar ao filho de seu grande amigo, Andrew Bagby, o quanto o pai do menino era especial, o quanto ele era amado e querido, o quanto ele iria fazer falta neste planeta.

Andrew Bagby e Kurt eram amigos de infância, se conheceram ainda meninos e cresceram juntos fazendo filmes, brincando e sonhando. A cena onde o diretor mostra um vídeo amador dos dois, ainda guris, “brincando de fazer cinema” e Andrew diz ao amigo: “Vamos criar uma máquina do tempo, e se um dia, se você morrer, eu vou voltar do futuro e impedir que isso aconteça”, acabou comigo...  É muito difícil assistir ao filme sem literalmente, derramar algumas lágrimas.





Kurt Kuenne entrevista os pais, colegas, amigos, parentes e pessoas próximas de Andrew, onde sem filtros, as pessoas falam sobre o cara. É tocante ver como ele era amado por todos, como ele sempre era chamado para ser padrinho de casamento dos amigos, e como ele tinha um carisma incrível (Andrew era o tipo de cara que se tu trocasse duas palavras com ele, tu já percebia o quanto legal ele era).

A entrevista da ex namorada, que era o seu grande amor, foi algo muito triste de se assistir também. Dá para notar que ela se sentia culpada pelo que aconteceu, por eles terem rompido e ele ter se envolvido com a psicopata que lhe tiraria a vida.  


Muito ódio e maldade:


 Não sei onde eu li que o “maior feito do Demônio é fazer com que as pessoas pensem que ele não existe”.

Eu concordo plenamente com isto.

Como podemos crer na possibilidade da existência de Deus, sem que o seu “inimigo” exista?

A existência de Shirley Turner só pode ser explicada como obra demoníaca. Só assim.

Mãe de três filhos de pais diferentes, e totalmente relapsa e indiferente com os filhos, Shirley era médica e colega de Andrew.

Essa psicopata e maníaca depressiva atirou cinco vezes em Andrew, após ele romper o namoro com ela, e após o crime, fugiu para a sua terra natal, o Canadá e lá foi de forma surreal, amparada por juízes e médicos, que a consideravam “doente e inofensiva”. Um psiquiatra designado para avaliá-la, chegou a declarar que “ela não representava perigo à sociedade, pois ela não odiava as demais pessoas, apenas aquela pessoa que ela matou”. 

Estou falando sério, o psiquiatra escreveu isto em uma recomendação de fiança para uma assassina!

Sem dinheiro para pagar um advogado, ela escreveu para um juiz, que inacreditavelmente, não só respondeu, como a instruiu de que formas, ela poderia e deveria apelar pela sua soltura!

Mas o que mais me revoltou, foi a audiência de liberdade provisória, onde uma juíza canadense,  tratava a CRIMINOSA como “Dra. Turner”, e de forma revoltante, não ouviu os pais de Andrew, e ainda os ignorou, para momentos depois, libertar a assassina.

No fim do documentário, quando o diretor tenta entrevistar os responsáveis pela liberdade da criminosa, e só recebe desculpas furadas para que não sejam concedidas entrevistas, o nível de indignação com a "justiça" canadense chega ao ponto máximo... E cheguei a pensar que só em países ditos de "terceiro mundo", como o Brasil injustiças dessa natureza aconteciam.

Shirley Turner era demoníaca. Assista ao documentário e veja. Ouça a voz dela. Veja o rosto dela. Eu afirmo isto sem dúvidas... Aquela criatura era a maldade encarnada.


Muita coragem e muita bondade:


Após o assassinato do filho, os pais de Andrew, David e Kate tem que conviver com a assassina, pois mesmo depois de todo o sofrimento que a criminosa traz a família Bagby, os avós querem e precisam conviver com o neto recém nascido. Apesar de toda a dor, raiva, ódio e desprezo que sentem pela assassina, eles precisam se submeter a exigências ridículas que ela impõe para que ela se “sinta segura em deixar o seu bebê com o avô e a avó”. Eu juro por Deus, que raras vezes, senti tanto ódio de uma pessoa, sem nem ao menos conhecê-la.

Os Bagby’s se sujeitam a tudo isto, enquanto lutam para colocar a assassina na cadeia e conseguir a guarda do neto.

Até que o que ninguém esperava acontece.

Após ser recusada por outro amante, Shirley mata Zachary e se suicida. Eu suspeitava que isso poderia acontecer, mas foi um choque. É o tipo de coisa que tu não acredita... Que tu tem que voltar e rever para acreditar.

Nesse ponto, o diretor diz que se perguntou se ali não seria o fim. Se ali não seria a hora de encerrar o projeto, pois sem Zachary, qual seria o propósito de seguir adiante?

Então, ele direciona o documentário para os pais de Andrew, com o propósito de mostrar a luta de David e Kate para que pessoas que sejam suspeitas de cometerem assassinatos não tenham direito à fiança e a liberdade provisória.  Ele também presta um lindo e tocante tributo ao amor e a bondade que são a base do caráter do casal.

O casal Bagby combate a imoralidade, a sujeira, a indecência, o desrespeito, e a maldade com sentimentos opostos a estes.

Os Bagby’s não são seres humanos.  Não podem ser. Seres humanos não são assim. Seres humanos não sentem e não agem como eles agiram. Este casal é sobre humano. Sua força, amor e decência não são deste planeta.

Em outro momento, o diretor mostra o funeral de Zachary e um dos amigos de Andrew diz a Kate e David: “Vocês podem achar que perderam um filho e um neto, mas estão errados. Todos aqui, amam vocês dois, todos aqui, de certa forma, foram criados por vocês dois. Então todos aqui, são filhos e netos de vocês dois. Vocês tem muitos filhos e netos, por isso, eu digo que precisamos de vocês, e que amamos profundamente vocês dois”. Foi uma das coisas mais bonitas que eu já vi e ouvi na minha vida.




Eu não consegui dormir direito após assistir ao filme. O sono custou horas para chegar. Eu não conseguia parar de pensar nos Bagby’s e no sofrimento que sentiram e que provavelmente, sentirão até o fim de seus dias.

Mas aí, pensei na força descomunal do casal para seguir adiante,  para viver e lutar pelos direitos de OUTRAS PESSOAS, pessoas que eles não conhecem, mas que de certa forma, são amadas e serão protegidas pelos atos  e pela luta deles.

Aí, o sono veio.

O propósito da Arte é mexer com a cabeça das pessoas. Tu pode não gostar, tu pode adorar, o que não pode de maneira alguma acontecer, é ficar indiferente ao que te é apresentado.

É impossível ficar indiferente a história de Andrew, Zachary, Kate e David Bagby.







Abraço.

4 comentários:

  1. Perfeita retratação do documentário, o amigo passa toda emoção e ódio sentidos por quem o assiste. É difícil de ler seu texto, tendo olhado o documentário pois vc retrata os principais pontos.
    Está perfeito, tecnicamente é seu melhor texto.
    Abração.

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  2. Muito obrigado, Ariel de Castro. Que bom que gostou... Como te disse, acho que as mesmas coisas que me sensibilizam, sensibilizam a ti também. Abração.

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  3. Grande Sandro,

    Estava com saudade de visitar o seu blog!

    Muito bom o seu texto. Você escreve muito bem!

    Estou curioso para assistir ao filme!

    Um forte abraço!

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