terça-feira, 31 de março de 2015

Trovando Sobre: A MONTANHA DOS SETE ABUTRES.

Existem muitas coisas que me dão um prazer danado. Os sorrisos do meu filho, a risada da minha esposa, achar um disco clássico que eu ainda não tenha bem baratinho no Mercado Livre, comer pizzas, beber heinekens e Jack Daniel’s, enfim, a lista é grande.

Um outro grande prazer que tenho na vida, é encontrar na internet, algum filme clássico (com boa imagem e legendas coesas) que sempre quis ver mas não havia encontrado em locadoras.

Sábado passado, tive novamente esse prazer. Encontrei no sensacional blog “Toca dos Cinéfilos”, o clássico de 1951, “A Montanha dos Sete Abutres”, com Kirk Douglas.

O filme fala sobre o desejo insaciável das pessoas por más notícias, sobre como a mídia parece buscar nos despejar tragédias, para que possamos saciar o nosso gosto pela desgraça alheia. Creio que ao lermos, ou assistirmos sobre os problemas dos outros, nos sentimos aliviados, pois percebemos que apesar de termos problemas, alguém lá fora tem problemas maiores do que os nossos... Sadismo puro.

Douglas interpreta o repórter inescrupuloso Charles “Chuck” Tatum, que conseguiu a façanha de ser demitido de 11 jornais diferentes, por 11 motivos diferentes. Chuck Tatum é muito semelhante ao personagem de Jake Gyllenhaal, no filme de 2014, “O Abutre”, já que ambos creem que “más notícias vendem, e que boas notícias não são notícias de verdade”.


Tatum chega ao Novo México, onde consegue emprego no jornal local. Certo dia, seu editor, o envia junto de um jovem fotógrafo, a uma cidade próxima, para cobrir uma caçada a cobras. No meio do caminho, quando param para abastecer, descobrem que o dono do posto de gasolina chamado Leo Minosa, procurando relíquias indígenas em uma caverna por hobby, foi parcialmente soterrado, já que Leo foi vítima de um soterramento.

A partir do momento que Tatum chega ao local, ele vislumbra o potencial daquela situação, e sua boca quase saliva, ao perceber que pode transformar o acidente de Leo em um “acontecimento”.

Em poucas horas, o que seria um acidente, até simples por assim dizer, se torna (literalmente) em um circo. Tatum discorre tanto sensacionalismo e tanto drama em suas palavras no jornal local, que chega a pensar que se tivesse “apenas mais alguns dias daquilo, se tornaria o repórter número um da América”. Ao que, Tatum, realmente consegue alguns dias mais, já que convence aos envolvidos no resgate, que todos se beneficiariam com um resgate mais lento, já que Leo era saudável, e até ele mesmo sairia ganhando, já que o seu posto de gasolina e sua lanchonete estavam faturando alto, com os "turistas” que prestigiavam o acontecimento. O salvamento que levaria 16 horas para ser concluído, se transforma em uma epopeia de seis dias, sendo já notícia por todo o país.


O diretor Billy Wilder mostra precisamente como a mídia e a sociedade são fascinadas por desgraças. Pessoas viajam de todas as partes dos Estados Unidos para acompanharem de perto o desenrolar da situação de Leo. Bandas country vendem discos com músicas sobre ele, lembranças do local onde ocorreu o soterramento são vendidas e até um circo é montado para entreter os "turistas"!

Praticamente, uma cidade de trailers e barracas surge no local do acidente.

A esposa de Leo, uma ex dançarina de cabaré fria e insensível, que estava prestes a abandoná-lo, é aconselhada por Tatum, a interpretar a “esposa desesperada”, para que as vendas do comércio do casal só aumentem. O que a mulher, prontamente faz.

Chuck Tatum manipula a tudo e a todos, criando uma atmosfera, onde ele controla absolutamente tudo o que acontece no salvamento, desde quem pode se aproximar da vítima, até que veículos da imprensa podem ter acesso aos fatos. A coisa é tão surreal, que até uma espécie de “oficial da lei” ele se torna, pois tem o corrupto xerife da cidade do seu lado.

Sempre considerei Kirk Douglas um mestre, um tipo de ator que assim como Brando, Pacino, De Niro, Burton e Olivier, sempre encarnou seus personagens de forma extremamente convicente e com total credibilidade. Sua personificação de Chuck Tatum cria um dos personagens mais desprezíveis e sacanas do cinema. Ao mesmo, tempo, já quase no final do filme, onde um desfecho trágico ocorre, vemos Chuck Tatum perceber o quanto suas atitudes foram baixas, imorais e criminosas.


Para não entregar muito apenas revelo que Leo era um homem ingênuo, que confiava em Tatum, e em suas palavras e que literalmente, coloca a sua vida nas mãos do novo “amigo”. O ator que interpreta o pai de Leo, também está soberbo em uma atuação de quebrar o coração de quem assiste o filme, já que apenas deseja ter seu filho de volta, são e salvo, depositando assim, toda a sua confiança em Tatum, tendo a certeza de que este, só pensa no bem estar do seu filho que sofre no fundo de uma caverna.

“A Montanha dos Sete Abutres” e certamente, um filme sobre o lado obscuro da mídia, mas não pude deixar que perceber que o filme também mostra que sempre quem escreve, tem a sua visão e a sua opinião dos fatos, mesmo que subconscientemente. E invariavelmente a opinião de quem escreve aparece nas palavras impressas. É praticamente impossível sermos neutros sobre qualquer notícia que lemos. Geralmente pessoas que se dizem “imparciais”, já escolheram um lado, e na maioria das vezes, escolheram o lado errado.

Foi extremamente prazeroso ter tido a oportunidade de assistir a esta obra prima do cinema.




Um abraço.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Trovando Sobre: WOLVERINE – O VELHO LOGAN.

Aconteceu há 50 anos. Não se sabe quem organizou, durante quanto tempo foi planejado, ou onde iniciou, o que se sabe é que todos os vilões se uniram e atacaram simultaneamente os heróis. Alguns vilões atacaram heróis que nunca haviam enfrentado, para dificultar a reação do herói atacado.

Todos os heróis foram mortos. Ao menos, 95% deles. Apenas alguns aqui e acolá escaparam, mas para protegerem suas vidas, vivem no completo anonimato.

Wolverine foi um dos sobreviventes. Hoje, é um pacato fazendeiro, que devido a uma tragédia ocorrida no dia do ataque dos vilões, não usa as suas garras e nem se envolve mais em brigas desde a fatídica data.

Essa é a premissa de “Wolverine – O Velho Logan”. Quando essa história saiu originalmente, não dei muita bola pra ela. Mancada das grandes...

Muito tempo depois, tive a oportunidade de poder ler a revista (uma edição luxuosa, de capa dura e com extras), e senti muito prazer e ao mesmo, me senti um Zé Mané, por ter perdido tanto tempo para fazer isso.

Como eu disse antes, Wolverine agora, é um fazendeiro (que está a cara do Will Munny, ou melhor, Clint Eastwwod no filme “Os Imperdoáveis”, que inclusive, foi uma das inspirações para esta história do nanico), que vive com sua esposa e seu casal de filhos, plantando, colhendo e criando animais. Porém, Logan e sua família não os donos das terras, elas pertencem a família/gangue Hulk.


Com o passar dos anos, Bruce Banner, o alter ego do Hulk, enlouqueceu, devido a efeitos da radiação gama, e se tornou um homem frio e sádico. Juntamente com a sua prima, a Mulher Hulk, criaram uma família incestuosa e canibal. Coisa pesada.

Aliás, essa foi, sem sombra de dúvidas, umas das histórias em quadrinhos mais violentas que já li na minha vida.

Hulk agora é dono não apenas das terras onde Logan e sua família moram,  mas do inteiro Estado onde vivem. Os Estados Unidos foram divididos em áreas, sob o comando do Rei do Crime, Doutor Destino, Caveira Vermelha e o supracitado, Hulk.

Como imensas dificuldades financeiras, Logan precisa de dinheiro para pagar seu aluguel, e além disso, manter a si próprio e a família vivos.

Já de início, um Logan sem reação toma uma sova na frente da família, por não ter o dinheiro do aluguel do mês. Sua esposa entende suas razões e até o admira, por sua complacência e passividade, já seu filho, não compreende a sua “calma”. Logan tem um mês para pagar dois aluguéis, ou ele e sua família sofrerão as consequências.

Até que um já cego Gavião Arqueiro aparece nas terras de Logan, com uma proposta: Logan ajuda o Gavião a fazer um entrega do outro lado país, e recebe uma bolada por isso. Logan imagina se tratar de uma entrega de drogas, mas não liga, e aceita a proposta, pois precisa desesperadamente pagar aos Hulks.

A dupla embarca no “Aranhamóvel”, e parte em sua jornada. Essa jornada é muito legal, pois além de ressuscitar o veículo criado por Reed Richards especialmente para o Homem Aranha, ainda nos deparamos com a neta do Aracnídeo, que vem a ser filha do Gavião Arqueiro!

Imagens de uma gangue de Motoqueiros Fantasmas e de um “tiranossauro Venom”, ainda completam a aventura dos ex heróis.

Até que em certo momento, em um bar, após uma piada homofóbica, um Logan tenso e preocupado com sua família quase degola um homem, mas é contido pelo Gavião, que pergunta o que levou Logan a abdicar de suas garras.

O motivo é embasbacante e as imagens, ainda mais.

Quando os X Men foram atacados na noite em que os vilões venceram, o vilão Mysterio, um mestre do ilusionismo, engana Logan, o fazendo acreditar que seus amigos eram vilões, e estavam o atacando ferozmente, quando na verdade, Logan lutava (e assassinava) o grupo de mutantes um a um... brutalmente.

Eu fiquei pasmo quando li e vi isso. Achei incrivelmente cruel e genial.

Mysterio destroça a alma de Logan, de tal maneira que ele tenta o suicídio, para aplacar a dor que sente e que carregará para o resto de seus dias.

Mas graças ao Gavião, Logan consegue manter a sua promessa de nunca mais ferir ninguém.

Até que a dupla finalmente, consegue chegar ao destino, entretanto, descobrem que sua viagem foi em vão, pois tudo não passava de uma armadilha do Caveira Vermelha. A mando do Caveira, o Gavião Arqueiro é assassinado na frente de Logan.

Mas isso não faz Logan soltar suas garras... após uma luta épica contra o Caveira Vermelha, onde este chega a recordar como matou o Capitão América com as próprias mãos, Logan derrota o vilão, o decapitando usando o escudo do falecido Capitão. Mas sem usar as garras, ok?

Munindo de uma mala de dinheiro roubada do Caveira, Logan volta para a sua casa o mais rápido possível, chegando duas semanas antes do prazo estipulado para o pagamento dos aluguéis. Mas quando entra em sua casa, Logan vê seu mundo desmoronar.

Sua esposa e seus filhos estão mortos.

Um vizinho, conta para Logan que os Hulks não quiseram esperar o pagamento, pois estavam “entediados”.

Não tenho como descrever o que senti quando, no penúltimo capítulo, pela primeira vez, Logan se transforma em Wolverine, e solta as suas garras. É uma das cenas mais icônicas da história dos quadrinhos, na minha modesta opinião.


A partir daí, de caça, Wolverine volta a ser “O” caçador. Wolverine invade a propriedade dos Hulk, e vai os matando, um por um, como um predador dizima suas presas. Até que finalmente, o encontro entre Wolverine e Bruce Banner acontece.

Banner ironiza o rival, dizendo que matou a família dele apenas para tirá-lo da inércia e fazê-lo reagir, pois sentia falta de uma boa briga.

A luta entre eles é espetacular. Banner mesmo idoso, tem uma força descomunal, outro efeito da radiação gama. Com uma certa dificuldade, Wolverine consegue cravar suas garras no peito de Banner, o deixando muito, mas muito nervoso.

E a gente sabe o que acontece quando Bruce Banner fica puto da vida, certo?


O velho Bruce Banner se transforma, em um Hulk ainda mais monstruoso e gigantesco, que literalmente DEVORA o Wolverine. Sim, é isso mesmo, o Hulk come o Wolverine como uma simples "refeição".

Talvez por esquecimento, ou por estar cego pela loucura, o Hulk se esquece de que Wolverine tem um poder muito especial... o seu fator de cura. Digamos apenas, que este fator de cura, causa uma intensa indigestão no mostrengo verde... uma indigestão que literalmente, o rasga de dentro pra fora.

Só posso dizer que esta história, já está entre uma das minhas preferidas do mutante canadense. Wolverine nunca foi tão legal, violento e fodão como mostrado nesse gibi. É uma leitura obrigatória para fãs de quadrinhos, uma experiência incrível.

Seria demais sonhar com filme do personagem nestes moldes, onde Wolverine é o Wolverine DE VERDADE e não um fã dos Los Hermanos? Será que é pedir demais?


Espero que leiam



Abraço.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Trovando Sobre: ÁLBUNS TRIBUTO.


Geralmente, quando se fala em álbuns tributo, se pensa em picaretagem. “A gravadora deve estar querendo faturar uns pilas, botando esse monte de gente para cantar as músicas dos fulanos...” é a primeira coisa que vem à cabeça.

Mas as vezes, exceções ocorre, e o álbum tributo se transforma em um trabalho de valor artístico relevante.

Confesso que sempre torço o nariz para versões de clássicos, e que majoritariamente, prefiro os originais, mas por vezes, as bandas ou artistas, conseguem acertar a medida de inovação/respeito, dando uma nova personalidade a música revisitada.

Hoje vou citar cinco acertos. São eles:





Concert For George, 2002.


Realizado um ano após o falecimento do “beatle quieto”, este mega evento foi uma espécie de memorial à vida e a obra deste que foi um dos maiores guitarristas, compositores e cantores da história deste planeta. Junto com os Beatles, ou em sua brilhante carreira solo, George Harrison mudou a música.

O concerto organizado por Eric Clapton (Clapton também foi o diretor musical do evento) é algo surreal em termos de qualidade no quesito convidados. Paul McCartney, Ringo Starr, Tom Petty, Jeff Lynne, Billy Preston, Ray Cooper, Jim Keltner, além do Monty Python e do filho e clone de George, Dhani Harrison.

As versões das canções de Harrison são de um bom gosto, de uma qualidade e de uma carga emocional contagiantes.  “Isn’t a Pitty”, “All Things Must Pass”, “Here Comes the Sun”, “Give Me Love”, “My Sweet Lord”, e “While My Guitar Gently Weeps” são alguns dos “tesouros” de George tocados na celebração.




Last Man Standing – 2006.

O primeiro punk da história, um senhor quase octogenário resolvendo lançar um disco de covers/tributo a grandes canções do Rock N’ Roll? Hum, será que poderia dar certo? Será que o “Killer” ainda pegada?

Pensei nisto quando antes de ouvir este disco na época de seu lançamento.
Deu muito certo. O “Killer”, AINDA tem mais pegada do que QUALQUER banda “mudééérna hype” atual. As flatulências de Jerry Lee são mais rockeiras do que o Avenged Sevenfold jamais será em sua carreira.

O que este senhor faz com “Rock N’ Roll” (Led Zeppelin), “Pink Cadillac” (Bruce Springsteen, “I Saw Her Standing in There” (Beatles), “Travelin’ Band” (Creedence) e “Evenig Gown” (Mick Jagger, só para citar algumas músicas do disco, deveria ser obrigatoriamente estudado por qualquer pessoa que pense saber do que se trata o Rock N’ Roll.

Jerry Lee Lewis pegou canções de seus “alunos”, e as incorporou de tal forma, que ele as tomou para si, como se ele mesmo as tivesse escrito. E alguns desses “alunos’ convidados do disco são Neil Young, Ringo Starr, Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood, Rod Stewart, Willie Nelson, Robbie Robertson e Jimmy Page. Alguns “professores”, do mesmo quilate de Jerry Lee também foram chamados como BB King, Mavis Staples, Merle Haggard e Little Richard. Não tenho nem noção do quanto prestígio esse senhor tem para reunir um time desses para participar de um álbum.

Tenho um dvd, onde Jerry executa as canções do disco ao vivo, e é simplesmente lindo ver o orgulho dos “alunos” e colegas, sendo regravados pelo “professor”.




We’re a Happy Family: A Tribute to Ramones, 2003.


Um time peso pesado prestando homenagem a terceira banda mais influente do Rock (depois de Beatles e Stones).

U2, Red Hot Chili Peppers, Kiss, Metallica, Green Day, Pretenders, Marilyn Manson, Eddie Vedder, Rob Zombie e Tom Waits, são alguns dos participantes deste álbum, contendo covers excelentes dos músicos punks de Nova Iorque.

Hinos como “Beat on a Brat”, “Havana Affair”, “Do You Remember Rock N’ Roll Radio”, “53rd & 3rd”, “Outsider”, “Something to Believe In”, “The KKK Took My Baby Away” e “I Believe in Miracles” sendo tratadas com o devido respeito e a devida reverência, e com a dose certa de tesão dos envolvidos é algo muito legal de se ouvir.

Não há sequer, uma música ruim no álbum.




Nativity in Black: A Tribute To Black Sabbath, 1994.


Eu estava no segundo grau, quando saiu este disco. Eu estudava no centro de São Leopoldo, colégio Visconde, e eu estava em uma das fases mais rebeldes e selvagens da minha juventude. Diversão era o meu mantra.

Lembro que meu grupo de amigos e eu, gostávamos do Sabbath, e ainda mais do Ozzy na sua fase de carreira solo, mas quando “N.I.B.”, saiu, foi uma unanimidade. Todo mundo gostou e todo mundo tinha, seja em cd, ou gravado em fita K7. Todo mundo ouviu.

Alguns amigos, inclusive, acharam, por exemplo, que as versões do Megadeth para “Paranoid”, do Bruce Dickinson para “Sabbath Bloody Sabbath”, do Sepultura para “Sympton of The Universe” e do Type O’ Negative para “Black Sabbath”, superavam as versões originais. Um tremendo exagero, apesar das versões destas bandas serem realmente excelentes.

Para muitos, este disco foi a porta de entrada para um conhecimento mais aprofundado da obra magnífica dos pais do heavy metal.
E isso por si só, já é um tremendo feito.




Spaghetti Incident, 1993.


“Uma grande canção pode ser encontrada em qualquer lugar. Faça um favor a você mesmo, e procure as canções originais”.

Esta frase está escrita no encarte do último disco de estúdio da formação clássica do GNR. Demonstra grande humildade e respeito da banda com seus homenageados.

Considerado pela crítica, como um álbum fraco, desnorteado e perdido, frequentemente Spaghetti Incident é taxado como “fiasco” por alguns “entendidos”. Quem pensa assim, provavelmente, considera o Coldplay “Rock”, e acha que a Madonna realmente escreve suas (risíveis) canções.

Spaghetti Incident é um fenomenal álbum de Rock, um trabalho de um patamar altíssimo, onde o Guns mostra suas raízes de maneira íntegra e precisa.

Das treze canções do disco, nove são covers de bandas punk. Contrariando alguns “espertos”, que consideram o punk inferior, ou que o Guns era uma limitadamente, uma banda de Hard Rock. Neste disco, o Guns mostrou ser bem mais do que rotulagens burras.
Reza a lenda, que a banda queria lançar o Spaghetti Incident, logo após o álbum de estreia, o clássico Apetitte For Destruction, ou seja, antes dos igualmente clássicos Use Your Ilusion I e II.

A voz de Axl Rose em “Ain’t It Fun” (que conta com Michael Monroe, vocalista do Hanoi Rocks nos backing vocals) nunca soou mais rasgada e raivosa. “Down on The Farm” (UK Subs), “Black Leather” (The Professionals), e “Hair of The Dog” (Nazareth) são outros exemplos do grande momento que Axl Rose vivia como cantor.

“Since I Don’t Have You” foi o grande sucesso comercial do disco, sendo uma regravação do grupo The Skyliners, lançada originalmente e, 1958.

Duff McKgan brilha cantando “Attitude” dos Misfits, “New Rose” do The Damned e especialmente em “You Can’t Put Your Arms Around a Memory”, uma belíssima balada escrita por seu maior ídolo, o guitarrista Johnny Thunders, falecido membro do New York Dolls.

Slash e Gilby Clarke formavam uma combinação perfeita de entrosamento entre guitarristas, já que eram amigos há muito tempo, e ainda são até hoje, tocando a até mesmo, fazendo turnês juntos. Os guitarristas deitam e rolam em canções como “Buick Makane/Big Dumb Sex”, dobradinha de T. Rex com Soundgarden e “Human Being” dos New York Dolls.

A mancada do disco ficou por conta da regravação da baladinha insossa “Look at Your Game Girl”, composta pelo maníaco homicida Charles Manson. Axl se arrependeu da “cagada”, e as novas edições do disco, não contém a faixa.


Estes foram os melhores álbuns tributos na minha opinião.



Espero que os ouçam, mas não se esqueçam: Procurem sempre os originais.


Abraço.






domingo, 15 de março de 2015

Trovando Sobre: U2 – PLEASE.


Quando o U2 lançou Pop, em 1997, imediatamente gostei do álbum. Talvez por ser tratar do disco cuja turnê trouxe a banda pela primeira vez ao Brasil, no ano seguinte ao lançamento, e que se tornou o primeiro show internacional que vi na vida. Talvez estes fatores na época, me fizeram simpatizar com o disco que até hoje, é considerado pela maioria dos fãs (e até pela banda) o pior trabalho já lançado por eles.

Bono Vox já declarou em entrevistas, que considera o disco “inacabado”, já que as gravações se atrasaram e muito, e por necessidade de agenda, tiveram de lançar o disco sem a produção estar completamente finalizada.

Eu discordo da maioria dos fãs e da própria banda. Acho Pop um tremendo álbum, com letras incríveis e melodias geniais, além da coragem da banda, em se aventurar por estilos mais eletrônicos e até dançantes em algumas músicas.

“Please” tem uma letra forte sobre religião, e um vídeo clipe igualmente marcante, onde Bono, ao final se emociona e chora.

Please
Autor: Bono Vox
Álbum: Pop
Ano: 1997.

“Então tu nunca conheceu o amor?
Até tu cruzar a linha da graça
Tu nunca te sentiu querida
Até alguém te bater no rosto
E tu nunca te sentiu viva
Até quase se destruir

Tu tinha que vencer, tu não podia deixar pra lá
A mais esperta da classe
A tua criatividade, a tua árvore genealógica
E todas as lições de História

Por favor, Por favor
Levante-se
Por favor, por favor, por favor, por favor

E tu nunca te deu conta do quanto tu teve que te humilhar
Para fazer aquela ligação
E tu nunca soube o que tinha no chão
Até que te fizeram rastejar
E tu nunca te deu conta que a felicidade que tu tem
Tu teve que roubar

A tua tristeza católica, os teus sapatos de convento
As tuas tatuagens falsas, agora estão dando o que falar
A tua guerra sagrada, a tua estrela guia
O teu sermão da montanha que vem do porta malas do carro

Por favor, por favor, por favor
Levante-se
Por favor, por favor, por favor,
Me deixe fora disto, por favor

Então o amor é difícil?
Então o amor é duro?
O amor não é que
Tu está pensando.

Setembro, ruas afundando
Transbordando pelos ralos
Cacos de vidro, se estilhaçam como a chuva
Mas tu só consegue sentir a tua própria dor

Outubro, conversas jogadas fora
Novembro, dezembro, lembre-se
Simplesmente podemos começar de novo

Por favor, Por favor
Levante-se
Por favor, por favor, por favor, por favor

O amor é grande
Maior do que nós
Mas o amor não é
O que tu está pensando
Os amantes negociam
Os amantes roubam
Tu sabe que eu achei
Muito difícil de recebe-lo
Porque em ti, meu amor
Eu jamais acreditaria".



Um abraço.


sábado, 14 de março de 2015

Trovando Sobre: KAISER CHIEFS – EDUCATION, EDUCATION, EDUCATION & WAR.


Em janeiro de 2015, fui a FIERGS assistir ao Foo Fighters, e esperava ao menos, ver um show interessante da banda de abertura, o Kaiser Chiefs. Mas para minha agradável surpresa, o que vi, foi um show divertido, muito bem executado, empolgante e recheado de boas canções.
Achei que os ingleses de Leeds deram um baita show.

O cara que foi comigo nesse show, meu fiel parceiro de shows e amigão, Rodrigo já era fã do KC, em especial, do vocalista Ricky Wilson...

O Rodrigo havia me contado que Ricky, que é jurado do xexelento programa The Voice, em sua versão inglesa, confessou estar no programa apenas para divulgar o último disco da banda, Education, Education, Education & War, de 2014, e que além disso, ainda admitiu que mesmo não gostando da maioria de estilos musicais dos seus pupilos no programa, os admira, pois o que “eles fazem brincando”, Ricky precisa se esforçar muito para conseguir em termos de alcance vocal. Ricky Wilson ganhou o meu respeito.

Então quando o meu amigo Rodrigo comprou o último disco da banda e me emprestou, e estava bastante otimista quanto ao som dos caras.

Education, Education, Education & War, não teve um “parto” tranquilo. O principal compositor do grupo e baterista, Nick Hodgson havia saído da banda em 2012, deixando os ex parceiros sem muitas perspectivas, a princípio.

Crises assim em bandas, sempre acarretam duas coisas. Ou uma grande porcaria, ou um grande trabalho. No caso do KC, a segunda opção foi a que prevaleceu.

Não podendo mais contar o trabalho do ex baterista, a banda foi obrigada a trabalhar junta, no estúdio, para criar do zero as canções que estariam no álbum. Com Ricky Wilson liderando as sessões, a banda criou um disco que se tivesse sido lançado no auge do brit pop, em 95/96, não faria nada feio.


O disco abre com “Factory Gates”, uma canção excelente para esta finalidade, já que a pegada instrumental e a voz de Ricky soam fortes e marcantes.

Na sequência, vem a melhor canção do disco, “Coming Home”. Essa música me chamou a atenção quando a ouvi ai vivo, na abertura dos Foo Fighters. Uma melodia belíssima sustentando uma marcante linha vocal, onde uma letra melancólica dá o tom exato que a canção pede.

Outro ponto positivo da banda... são adeptos do minimalismo.

“Misery Company” é outra excelente canção, onde sons de risadas sampleadas são o destaque. A canção “Ruffians on Parade”, é divertida e empolgante, outro grande momento do disco, onde a bateria se destaca frente ao andamento da canção.

“Meanwhile Up in Heaven”, é introspectiva e densa, uma canção que imagino ter dado trabalho no estúdio.

A letra de “One More Last Song”, fala de uma forma muito triste, sobre o vício em drogas.

Na música “My Life”, a voz de Ricky Wilson soa como se ele tivesse colocado tudo de si naquele momento... outro belo momento do disco.

Por fim, “Bows And Arrows”, “Cannons” e “Roses” encerram o álbum de maneira excelente. Um fator importante que normalmente passa despercebido pelas bandas e produtores, é a importância da escolha da sequência das canções. As três músicas escolhidas para fechar o disco, bem como as outras, estão em uma perfeita sequência, que transportam o ouvinte para uma tarde chuvosa na Inglaterra, no meio dos anos 90.

Em tempos atuais, onde porcarias como Imagine Dragons, Ed Sheeran, The Lumineers e até mesmo o sonolento Los Hermanos são chamados de “bandas de Rock”, o Kaiser Chiefs aponta para o futuro, mas trazendo na bagagem toda a substância musical e emocional que uma banda de Rock, ao menos deveria ter.

Tirei o chapéu, “lads”.



Abraço.

sábado, 7 de março de 2015

Trovando Sobre: “SELMA – UMA LUTA PELA IGUALDADE”.

No fim da tarde, de 1º de janeiro de 1955, após uma rotina exaustiva de trabalho, Rosa Parks, toma um ônibus em direção a sua casa. Rosa senta-se na área destinada aos negros, conforme a lei segregacionista vigente no Alabama na época. O ônibus em instantes lota, e um homem branco sobe no ônibus, e ordena que Rosa levante-se para que ele possa se sentar. Ela diz “não”.

Pode parecer pouco, mas Rosa foi presa e passou a noite na cadeia, por esta “ofensa” moral ao porco, digo, "homem" que queria o seu lugar.

Este foi o pontapé inicial da luta pelos direitos civis dos negros americanos, liderados pelo reverendo Martin Luther King Jr.

Em 1965, na cidade de Selma, também no Alabama, Annie Lee Cooper, uma enfermeira negra, tenta se registrar para votar nas próximas eleições. Desde 1963, os negros já tinham conquistado o direito ao voto, entretanto, tinham que se registrar para estarem aptos. E este registro, era sempre dificultado pelas autoridades (brancas) responsáveis.

Em zonas afastadas, negros eram intimidados com extrema violência para que não se registrassem ou que não votassem.

Aí temos duas situações chave na história da luta e conquista dos direitos de igualdade dos negros. Duas mulheres foram decisivas para que o mundo começasse a abrir os olhos para a situação dos negros americanos e Martin Luther King foi junto com Nelson Mandela, a figura mais emblemática na luta do povo negro por dignidade.

“Selma”, começa mostrando uma parte da via crucis que Annie Lee passou. A partir daí, a filme enfoca a marcha liderada por Martin Luther King, da cidade de Selma até a capital do Alabama, Montgomery onde centenas de negros foram se registrar para poderem votar.

O filme é uma obra de arte intensa. O roteiro é preciso, historicamente fiel e com diálogos extremamente bem escritos. A diretora Ava DuVernay realiza um trabalho sutil, onde consegue extrair atuações emocionadas e viscerais do elenco. Imagino como deve ser para um negro atuar em um filme com um tema tão forte para a sua própria gente, como neste caso.

O ator David Oyelowo, ao menos, deveria ter sido indicado ao Oscar pela sua representação do “Dr. King”, como MLK era chamado. Os trejeitos, a entonação da voz, o olhar, a linguagem corporal, estão assustadoramente parecidos com os de MLK. O ator brilha em cada cena.




Na cena do discurso final em Montgomery,, quando fala do seu sonho de igualdade, e na cena do funeral do jovem assassinado pela polícia, onde vocifera: “Vocês sabem quem puxou o gatilho e matou este menino? Todos os policiais brancos que abusam do nosso povo. Todos os brancos que nos insultam na rua e nos lugares onde vamos. Todos os NEGROS, que não se juntam a nossa causa. Todos que negam os nossos direitos puxaram o gatilho da arma que matou este menino!”. Inesquecível.


A brutalidade mostrada quando a polícia e o exército reprimem a primeira tentativa da marcha foi algo que me embrulhou o estômago. Ver mulheres, idosos e jovens sendo caçados e espancados covardemente foi algo que me deu ânsia de vômito. A reação da “plateia” branca, que vibrava a cada agressão das forças da “lei” foi algo repulsivo e nojento de se ver. Senti vergonha.


Porém, enquanto alguns sentiram prazer em ver aquela barbárie toda, seres humanos com consciência, coerência e senso de justiça, viajaram até Selma, para unirem-se e prestar solidariedade aos negros, que lutavam, não por mais direitos do que ninguém, lutavam apenas por direitos IGUAIS aos de todo mundo. A cena onde brancos e negros caminham de braços dados foi uma das mais belas e bem filmadas que vi em muito tempo.

Geralmente, ignorantes imbecis acham que negros e LGBT’s lutam por “mais” direitos. A comunidade negra e a comunidade LGBT não lutam por MAIS direitos do que as outras pessoas e sim, por IGUALDADE de direitos para todos.

A atuação do ator idoso que interpreta o avô do menino assassinado também é uma das belas que já vi até hoje. Menos é mais em certos papéis, e o veterano ator praticamente atua como seus olhos apenas. Vale a pena prestar a atenção nele.

“Selma – Uma Luta Pela Igualdade”, é uma representação fiel, de uma época horrível, que acabou há pouquíssimo tempo e que deixou marcas profundas na História. É um filme que mostra como mesmo todo a ignorância, toda a violência e toda a injustiça, podem ser revertidas e vencidas com amor, coragem e perseverança.




Espero que assistam.

Abraço.