Eu senti que ontem não seria um bom dia para a
humanidade. Tive esse presságio quando
vi a Regina Casé, naquele horrível e pretensioso programa “Esquenta” fazer uma “homenagem”
ao Punk. A apresentadora disse que todo
o estilo Punk é de boutique, já que foi criado por Malcolm Mclaren e Vivienne Westwood, empresários, marqueteiros e donos de uma boutique na Londres dos anos 70 chamada "Sex". Malcolm e a esposa foram os “gurus” dos Sex
Pìstols.
Regina Casé não podia estar mais equivocada.
O Punk nasceu em 1967, quando Lou Reed, e a banda Velvet
Underground (junto da cantora alemã
Nico) lançaram o álbum "Velvet Underground & Nico" (aquele da capa com a banana, sabe?).
Em 1967, os Beatles lançaram “Sgt. Peppers”, e a cultura
hippie dominava a juventude. Lou Reed e o VU vinham na contramão disso. Reed
odiava hippies, pois não via sentido em falar, ou cantar sobre amor, árvores
lindas, a beleza do sol, e outros temas positivos, enquanto a guerra do Vietnã acontecia.
Em 1967, os temas das canções de Lou Reed eram drogas,
vícios, desespero, morte, sexo (gay, inclusive), enfim, falavam do lado negro da
humanidade, e estes temas quase sempre foram os principais das suas canções durante toda a sua carreira.
Junto com Jim Morrison, do grupo The Doors, Lou Reed foi o cara que introduziu a influência da poesia clássica (e contemporânea) ao Rock. Foi com certeza, um dos maiores letristas de Rock de todos os tempos.
Eu conheci a obra de Lou Reed no início dos anos 90, quando um conhecido
me emprestou o nada menos que perfeito disco “Transformer”, produzido pelo amigo (e discípulo de Reed), David Bowie, que literalmente, transformou e melhorou o meu gosto
musical.
Reed sempre foi um
poeta maldito, cínico e grande
observador de pessoas. Tinha apreço pela visão crua e real do ser humano. Era
um cronista minucioso da nossa raça. Sua grande paixão era a cidade de Nova
York, tema de diversas de suas maravilhosas canções.
Lou Reed vivia o que retratava em suas canções. Foi viciado
em todas as drogas já criadas pelo homem, e foi casado por anos com Rachel, um
belíssimo travesti.
Lou Reed nunca fez concessões em sua carreira, nunca cedeu a
pressão de executivos babacas de gravadora, para “soar mais comercial”, apesar
de ter lançado álbuns mais “fáceis” e com uma sonoridade mais pop, como “Coney
Island Baby” e “Sally Can’t Dance”, que são de uma qualidade incrível, onde as
letras muito inspiradas, estão envoltas em ótimas melodias. Lou Reed foi pop,
sem propositalmente querer ser. O artista era um refém de suas canções, fazia o
que elas pediam, trabalhava em prol de sua visão. Era um egoísta, como todo
Artista deve ser.
Discos como “Metal Machine Music”, “Street Hassle”, "New York", Rock N’
Roll Animal”, o já citado "Transformer", e o magnífico “Berlin”, a opéra rock sobre um jovem casal na
cidade alemã, são até hoje, referência para
artistas como U2, Iggy Pop, The Strokes, Television, Pearl Jam, Bruce Springsteen, Morrissey, Elvis Costello, The Killers, Metallica,
entre tantos outros.
O último trabalho do artista, inclusive, foi com o
Metallica, quando gravaram em 2011 o incrivelmente menosprezado álbum “Lulu”,
baseado inteiro, na obra de um poeta alemão. Os críticos e fãs (do Metallica) detestaram
o disco, mas a banda declarou que “foi uma honra e um prazer trabalhar com um
gênio como Lou Reed”. Quanto “egoísmo” do Metallica, hein? Eu nunca fui um
grande fã do Metallica, mas vou sempre respeitar os caras por isso.
Eu acho o disco “Lulu” excelente, umas das melhores coisas
que tanto Lou Reed, quanto o Metallica
já fizeram.
Lou Reed faleceu ontem, aos 71 anos, vítima de complicações
de um transplante de fígado. Espero realmente que tenha sido por isso, pois não
quero acreditar que de alguma maneira, ele tenha visto a “homenagem ao punk”, feita pelo medíocre “Esquenta” e tenha decidido de vez, sair de cena...
Um cara postou a seguinte pergunta no Facebook ontem: “Nossos
ídolos estão morrendo... Será que não vão surgir novos ídolos do nível destes
que estão partindo?”
Eu te respondo, caro amigo: Não.
Nunca mais pisará neste planeta, alguém como Lou Reed.
Um abraço.