Quando penso em uma palavra que possa definir John R. Cash,
só consigo pensar em uma: “Lenda”.
A história de vida do cara rendeu um ótimo filme, onde um
excelente Joaquim Phoenix deu vida ao “Homem de Preto”, e uma mediana Reese
Whiterspoon viveu June Carter Cash (e ganhou um Oscar pelo trabalho) a segunda
esposa e amor da vida do astro.
Cash era um homem atormentado, isso é inegável. Desde quando
era criança e “tinha de cantar muito alto, para espantar os pumas quando
voltava à noite do trabalho para casa”, e também por decorrência do acidente
que matou seu irmão mais velho (Johnny e o irmão Jack foram incumbidos de serrar
lenha com uma serra elétrica de mesa, e Cash se recusou, indo pescar, deixando
seu irmão sozinho no trabalho, que por sua vez, se acidentou, tendo sido
praticamente serrado ao meio, e sofrendo muito, por uma semana, antes de
finalmente falecer). Até o dia de sua morte, Johnny Cash se culpou pelo
acidente, e dizia que esperava reencontrar seu irmão no céu. Fatos que moldaram
a personalidade de Cash, tanto artística quanto pessoal.
Desde quando iniciou sua carreira na música, sendo
contemporâneo de Elvis, Roy Orbison, Carl Perkins, e todos os heróis da era do
Rock N’ Roll, Cash sempre foi um dos mais rebeldes entre todos eles, sendo preso certa
vez na fronteira do México, com centenas de comprimidos de anfetaminas
escondidos no violão. Cash penou durante anos contra o alcoolismo e o vício em
drogas, só se livrou completamente com a ajuda de June e da fé, que o levou a
ser tornar um cristão fervoroso.
Sua carreira correu bem durante a década de 60, quando
chegou até a vender mais do que os Beatles, já que seu disco ao vivo “At
Folsom Prison” foi um sucesso estrondoso de vendas, bem como “At San Quentin” e
outros lançados pelo cantor. A década de 70 também não foi ruim, já que Cash se
aventurou pelo cinema e lançou álbuns natalinos e de música religiosa (fracos,
por sinal), mas que também venderam bem.
A década de 80 não foi boa para o artista, já que sempre
fora desprezado pela crítica “especializada”, e breves recaídas com drogas
ocorreram.
Mas a década de 90, em compensação, marcou uma espécie de
“ressureição artística”, da carreira de Johhny Cash. Em 1994, o produtor Rick
Rubin, especializado em Rap e Heavy Metal, contratou Johnny para seu selo,
“American Recordings”, propondo que Cash “modernizasse” sua obra, gravando
canções de compositores contemporâneos. E para a alegria de todos nós, Cash
topou a “empreitada”.
O primeiro álbum decorrente da parceira, foi lançado em 1994
e apenas intitulado American Recordings, foi gravado na sala do cantor, com
apenas um violão tocado pelo próprio Cash, acompanhando as letras de caras como
Glenn Danzig e Tom Waits, e a voz de trovão de Cash, carregada de todos aqueles
sentimentos que só ele sabia colocar em cada sílaba que saía de sua boca.
Em 1996, Unchained é lançado. A convite de Rubin, Tom
Petty & Heartbreakers servem de banda de apoio para Johnny Cash cantar além
de versões de canções do Soundgarden (Rusty Cage, em uma versão
impressionante), Beck e composições do próprio Cash, como a pungente
“Spiritual”, onde Flea, baixista do Red Hot Chili Peppers participa. Tenho
certeza, que os músicos convidados devem ter gravado com sorrisos estampados nos
rostos, já que estavam ao lado de uma, como já disse antes, LENDA da música. Na
boa, se eu fosse qualquer um dos músicos, gravaria de graça, ou até, pagaria
para poder tocar ao lado do mestre Cash.
American III – Solitay Man, saiu em 2000, sob forte stress,
já que Cash fora diagnosticado com diabetes e outros problemas sérios de saúde.
Mas como todo grande mestre de sua arte, Cash canalizou este stress em
interpretações que fariam até mesmo Chuck Norris sorrir de orelha a orelha.
Cash simplesmente se apropriou de “One” do U2, de uma maneira, que parece que a
canção foi composta por ele na noite da gravação da canção. “I Won’t Back Down”
de Tom Petty se transformou em uma espécie de hino, entoado por um homem em
cima de uma montanha. As regravações de “Solitary Man”, de Neil Diamond entre
outras e composições próprias, fazem de disco, nada menos do que um poderoso
documento artístico para a humanidade.
Aí vem a “cereja do bolo”, caros amigos... em 2002, Cash
lança American IV – The Man Comes Around. Eu não consigo pensar em uma seleção
de canções que atestem de forma impecável o que era Johnny Cash como ser
humano.
O disco abre com a autoral “The Man Comes Around”, uma letra
biográfica, que fala da fé de seu compositor. “In My Life” de Lennon &
McCartney é a biografia de Cash em forma de música. A interpretação contida e
melancólica, faria Jesus Cristo em pessoa, parabenizar Johnny Cash. “Bridge
Over Troubled Water”, é transformada em algo tão lindo e tocante quanto a
versão de Elvis Presley. Somente um intérprete brilhante como Cash, poderia
melhorar canções excelentes, o que ocorre em “Personal Jesus”, do Depeche Mode e
“Hurt” do Nine Inch Nails, que ganhou um vídeo clipe belíssimo, onde um Cash já
idoso, ceia solitário e relembra momentos de sua vida. Pungente.
Rick Rubin tem grande mérito na feitura dos álbuns, já que
sua produção minimalista ressaltou toda a beleza das interpretações de Cash
(apenas “Unchained” conta com guitarras e baterias, os outros cinco álbuns da
série American Recordings, são basicamente voz, violões e piano/teclado).
Mas a grande surpresa fica por conta de “I Hung My Head”,
composta por Sting. Nunca fui um grande fã das composições do britânico, mas inegavelmente ele compôs uma música extremamente perfeita para Cash. A canção fala de um
homem arrependido de seus pecados e crimes, sendo julgado. Não tenho como
descrever o que sinto cada que vez que ouço esta obra - prima... epifania seria
um bom adjetivo.
Johnny ainda lançou mais dois volumes da série “American
Recordings”, American V – A Hundred Higways e American VI – Ain’t No Grave, de
2006 e 2010, respectivamente. Ambos os álbuns são póstumos, com gravações
realizadas antes do falecimento de Cash, em 2003.
Ainda não tive a oportunidade de ouvir completamente os
álbuns póstumos, mas ainda os ouvirei (e os terei), e isso é uma promessa.
Johnny Cash foi um dos maiores pilares da música popular
mundial. Tenho certeza que estes álbuns e outros, de sua carreira transmitem com
exatidão toda a importância deste artista soberbo que deixou a sua marca neste
mundo.
"Hello, I'm Johnny Cash".
Um abraço.
Excelente a postagem.
ResponderExcluirContou quem foi, ou é, Johnny Cash, de maneira única! sensacional!
Grande fratello!!! Obrigado.
ExcluirBoa resenha! Johnny Cash fodástico!
ResponderExcluirMuito obrigado!!! Sim, sem dúvidas, um mestre!
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