sábado, 21 de janeiro de 2012

Trovando sobre: ETTA JAMES

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Eu sou um cara chato. Não como feijão com grão, não gosto de fio na roupa, não suporto leite e ovo, sou impaciente, sou ranzinza, enfim, chato pra várias coisas. Mas em termos de cantoras, eu sou muito chato. Vozes femininas dificilmente me impressionam. Cantoras pra mim, ou são ótimas, e me emocionam ao ponto de não conseguir conversar  escutando - as, ou são uma tremenda porcaria, que só fazem exibicionismo. Etta James era do seleto grupo das ótimas cantoras.

Para o primeiro post do ano, queria começar mais positivo, mais alegre, mas não posso deixar de falar sobre esta cantora soberba e única, que faleceu hoje.

Em primeiro lugar, Etta era o tipo de cantora que podia cantar de tudo, caminhar entre todos os estilos e fazer um trabalho relevante. Gravou desde Frank Sinatra à Guns N' Roses. E com classe.

Etta James começou a carreira por de volta de 1955, e em 1961 gravou seu primeiro álbum, chamado "At Last". Para falar pouco do álbum, é um dos pilares da música popular americana, um obra de arte, que deveria ser obrigatório nas escolas de música do planeta Terra.

Etta James - "At Last

Etta James tinha uma particularidade raríssima em cantoras (es). Ela cantava com o corpo e alma, e o ouvinte sentia com o corpo e a alma, toda a emoção, o rancor, o amor, o erotismo, a raiva, a alegria ou a decepção que ela queria transmitir para quem a ouvisse.

Como um artista pode cantar com todo o corpo e alma? Elvis cantava. Janis Joplin cantava. Elis Regina cantava. Marvin Gaye cantava. Isto é um tipo de entrega que exige duas coisas do intérprete, ou você acredita profundamente no que está cantando, ou você viveu aquilo na pele, passou por aquela experiência, sobreviveu aquilo, e está aqui, de pé para contar.

Etta James cresceu nos anos 40 para 50 nos Estados Unidos, era praticamente analfabeta, negra, filha de prostituta e foi por muitos anos, viciada em heroína. Sem contar as inúmeras desilusões amorosas e problemas de saúde, decorrentes do uso de drogas e obesidade. E ela escrevia e cantava sobre isso com a maior sinceridade. Hoje em dia, as pessoas acham que é uma dádiva ir em um show de música e o "artista" não dublar, ou escrever letrinhas bobinhas de amor ou dorzinha de cotovelo (alguém já leu as letras da Adele?) Etta James sempre atuava na composição de suas letras, melodias e arranjos, e isto, para este tipo de Artista, é uma obrigação. Você recebe pelo que paga.

Quando ouço gente dizendo que Amy Winehouse, Adele, Mariah Carey e outras são "divas", "cantoras extraordinárias", que cantam com "emoção", quase racho de rir. Sério. Em primeiro lugar, estes exemplos, puramente, tentam reciclar o trabalho de Etta de outras, como Bessie Smith, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Patti Labelle, Aretha Franklin e outras artistas originais e matriarcas do estilo sincero de se expressar através de um canção de três minutos. Não condeno quem ouve essas "genéricas", mas que vá se informar, e ouvir a original, o pilar onde essas outras se escoram.

Outra característica marcante de Etta era a diversidade. Etta James gravou jazz, blues, funk, gospel, soul, rock n' roll, heavy metal, standards, bossa nova, sempre com a mesma verdade, com o mesmo coração, com a mesma intensidade, pois se ela interpretava a canção de outro compositor, o arranjo era adaptado para sua performance. Etta era comedida, suave, romântica ou sensual, caso a canção pedisse isso, e sabia subir e descer tons com extremo bom gosto sem precisar ficar se "esgoelando", ou dando berros e fazendo malabarismos vocais para mostrar que alcançava determinada nota. Etta era sentimento verdadeiro, não imposto para emplacar músicas em novelas e filmes.

Em 2008, foi lançado um filme chamado "Cadillac Records" (muito bom, por sinal) que conta a história da gravadora Chess Records, onde Etta gravou vários discos. O filme é recomendado para quem quiser conhecer mais sobre a diva. Beyoncé intrepreta Etta James com muita categoria e competência.

Cadillac Records - 2008

Enfim , eu poderia ficar horas falando sobre esta artista, que é uma das minhas cantoras preferidas de todos os tempos, mas por mais que falasse e tentasse demonstrar toda a minha admiração, todo o meu respeito, toda a minha tristeza pela sua partida, acho que, ainda assim, faltariam argumentos.

Enfim, me despeço ouvindo o trabalho desta cantora admirável e singular na História da Música do século XX.



O céu está mais alegre a partir de hoje.



Tchau.

2 comentários:

  1. Perfeito Sandro, sugiro ate mesmo que este teu texto seja enviado ao nosso pasquim o infeliz VSL afim de alcancar um numero maior de "entendidos" no assunto musical. Adelistas de plantao. Grande perda para o mundo da musica, assim como o futebol brasileiro esta tambem perdendo um dos seus grande senao o maior da atualidade. Parabens, Abcs.

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