Esta semana se completam 40 anos do lançamento do "Maior Filme Americano de Todos os Tempos", segundo a revista Rolling Stone. Para mim, este título é totalmente merecido e justo. Neste exato momento, o canal TCM está passando esta obra-prima do diretor Francis Ford Coppola e do genial escritor Mario Puzo, que escreveu o livro que originou o roteiro do filme.
Estou assistindo pela 989ª vez e todas as vezes que assisto, percebo detalhes e nuances que antes me passaram despercebidos. Em primeiro lugar, este é um filme com atores simplesmente soberbos. A atuação de Marlon Brando (que ganhou o Oscar, e o recusou) como o patriarca e "fundador" da famíla = império Corleone é uma epifania. Toda a satisfação de possuir o poder de mandar matar ou deixar viver, de ter toneladas de dinheiro, de ser respeitado por TODOS, o astro passa com uma naturalidade excepcional, bem como a angústia de ter de fazer sacríficios e ter de viver sempre "mantendo seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda". Mas ao contrário do que todos pensam, Vito Corleone não é o grande "Padrinho", da família. Vito é um coadjuvante, pois o grande personagem do filme, e um dos maiores personagens da História do cinema chama-se Michael Corleone, interpretado pelo ícone da 7ª arte chamado Al Pacino.
Michael é um herói de guerra, militar condecorado e de futuro promissor na política, mas que, devido a necessidades que surgem (o irmão Sonny é cabeça quente e não separa negócios de assuntos pessoais, e o irmão mais velho Fredo é um fraco), é obrigado assumir a liderança da família, quando Vito adoece e posteriormente, falece. Para mim, o que torna o personagem tão completo, tão humano e tão admiráel, é que Michael é um tipo de herói (sim, herói) perfeito. Eu acredito que um grande herói, um verdadeiro herói, é aquele que sacrifica QUALQUER coisa por um bem maior, que no filme, vem a ser a sobrevivência e expansão da família. Michael precisa ser forte, pois os demais são fracos, e ele não pode se dar à este luxo. Em sua jornada de vitórias profissionais e derrotas pessoais, Michael comete dois erros fatais em sua trajetória. O primeiro é se casar com aquela coisa insossa e chatérrima chamada Kay Parker. No início da trama ela se casa com Michael e desde o pricípio, ele deixa claro o que faz, e de que necessita de seu apoio, principalmente quando as adversidades surgirem, mas quando estas adversidades surgem, ela abandona o marido e ainda por cima aborta o terceiro filho do casal (a cena onde ela conta pro Michael que fez um aborto porquê não queria pôr outro membro "daquela família" no mundo, e Michael reage intempestivamente, vale por pelo menos, umas seis aulas na faculdade de Cinema).
O outro erro fatal é, após ser traído e sobreviver a um ataque arquitetado pelo irmão Fredo, em sua própria casa, Michael decide mandar matar o próprio irmão, causando um grande mal dentro de sua própria família. Fredo deveria ter sido banido, e pronto. A atuação de Pacino nestas cenas e em inúmeras outras, é algo que nunca foi ou mesmo, será visto outra vez na História da atuação. O mais engraçado é que a princípio, a Universal Pictures não queria de jeito nenhum, que o iniciante Al Pacino interpretasse Michael. O estúdio queria Robert Redford, Warren Beatty, Paul Newman e até mesmo, James Caan (que interpreta Sonny, irmão mais velho de Michael).
Mas o que "amarra" o filme, além das ótimas atuações, é roteiro brilhantemente escrito. Nunca um filme trouxe tantas falas que se tornaram clássicas e icônicas, frases que as pessoas repetem até hoje, e nem sabem que estas frases, são retiradas do "Poderoso Chefão".
Citar minhas cenas preferidas é impossível, pois são tantas... Mas agora está passando a maravilhosa cena do batismo do sobrinho e afilhado de Michael, onde enquanto os inimigos da família são exterminados um a um, Michael recebe a hóstia e "renega o Demônio e renega o Mal".... Soberbo é um adjetivo minúsculo para definir isto! Essa cena mostra a gênese de todos os seres humanos: Ninguém é totalmente bom, ou totalmente mau. Somos santos e demônios, depende do ponto vista.
A parte II da trilogia, é considerada simplesmete a melhor continuação de todos os tempos e foi a primeira sequência a ganhar Oscars (11 ao total!).
A parte III, apesar de ser indiscutivelmente, a mais fraca da saga, na minha humilde opinião é muito boa, o filme todo vale pela poética, e ao mesmo tempo melancólica cena da morte de Michael Corleone.
Coppola tem o mérito de ter tido a coragem de fazer o filme da maneira que quis, da maneira que Mario Puzo e ele sentiam que devia ser feito, ao contrário de "cineastas" atuais, que mais visam a bilheteria ou então tentam ser ser "profundos", fazendo coisas chatas e monótonas, na desesperada tentativa de ganhar o Oscar (prêmio que pra mim, assim como o Grammy, valem tanto quanto uma lata de Skol quente).
Todo homem deve assistir a trilogia, ao menos uma vez na vida. É transformador. Eu sei por experiência própria.
Grande Abraço.
A incrível decadência de um homem poderoso e o resultado desastroso de seus atos torna a segunda parte da saga ainda mais pesada e sombria. A maestria de Coppola está presente em casa cena..e muito positivo ao filme é que o "herói" é um cara frio e cruel.. boa análise Sandro..gostei muito, parabéns.
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