sábado, 28 de janeiro de 2012

Trovando sobre: CHICO ANYSIO



O maior humorista brasileiro de todos os tempos é Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho.

 Oscarito foi genial, Jô Soares foi fantástico, e Os Trapalhões sensacionais. Chico foi além de todas estas qualidades Por quê? Por quê combinava humor físico com um texto brilhante, por isso Chico é atemporal. Uma piada de Chico sobre o governo de FHC é engraçada ainda hoje! A piada era excelente, ou o país  não mudou tanto assim?

Chico começou a carreira na década de 60,  no Ceará, em Maranguape, sua terra natal e, desde então, vem em mais de 50 anos de carreira,  ativo seja no teatro, ou hoje em dia, em esporádicas aparições na TV.

O diferencial de um humorista como Chico, é que ele não precisava apelar, ser escatológico, ou bancar o revoltado, ofendendo à tudo e a todos. Chico sempre optou pela inteligência, autenticidade e o cinismo. Acho que fazer humor (inteligente, sem ser chato) é uma das coisas mais raras do universo.

Além de ser roteirista, compositor musical, ator e em muitos casos, diretor, Chico tinha outro diferencial... Criava personagens inesquecíveis e de identificação imediata com o telespectador.

Não citarei o personagem "Professor Raimundo", ou a "Escolinha do Professor Raimundo", porquê citar um programa que até hoje faz sucesso em reprises e é descaradamente copiado e reciclado há mais de 50 anos é chover no molhado...

Cito os meus favoritos, entre os mais de 200 tipos criados pelo artista:


Haroldo Hétero, "O Machão"
Nunca vi ninguém imitar um gay melhor que isso. Chico quando interpretava "Haroldo", era rico nos detalhes, coisas como movimentação de braços, pernas e trejeitos característicos.

 Sem contar a "língua presa", as roupas e a "pancinha". Sempre que vejo qualquer quadro com "O Machão", me mato de rir. No DVD "Chico Especial", Haroldo se transforma em Lobo Mau na história da Chapéuzinho Vermelho. Toda vez que meus amigos vem aqui em casa, assistimos. E sempre damos risada!


Alberto Roberto, "Símbalo Sesqual"
O maior ator de todos os tempos. Al Pacino? Principiante. Marlon Brando? Um boçal. Robert De Niro? Feioso. Assim, Alberto Roberto definia seus "discípulos". O típico galã global (Chico tirava sarro dos colegas, do seu empregador, e NINGUÉM, e eu quero dizer NINGUÉM reclamava. Porquê era bem feito, em forma de sátira, mas sem apelar. Sem precisar baixar o nível ou degradar quem quer que fosse...


Silva, "O Bunitim, Cheirosim, e Gostosim"
Silva era um nordestino que fazia um enorme sucesso com mulheres. Chico nunca revelou o motivo (e nem o tamanho) do sucesso. Digamos que Silva, tinha um predicado enooorme, se é que vocês me entendem.... Este é o ponto, não é te entregar a piada pronta, é respeitar a tua inteligência e  saber que tu vais entender a piada. Fazer piada com um tema tão chulo, e ainda assim, ser perspicaz é um feito magistral.


Bozó "da Globo"
Outro tiração de sarro com o seu "patrão", ou a empresa que empregava o humorista. Bozó era uma espécie de office boy, que mentia para a mulherada, dizendo ser "sobrinho do Dr. Roberto", "Diretor de Elenco", "Amigo do Daniel Filho', apenas para levar alguma desavisada para fazer um "teste de elenco", na casa dele. Obviamente, uma alusão aos famosos "testes do sofá", que diversas "atrizes, modelos, cantoras e apresentadoras" enfrentam até hoje...



Coalhada, "O Maior Craque de Todos os Mundos"
O único jogador da história do futebol a jogar um Grenal pelo dois times, e marcar um gol pra cada lado. Jogou o primeiro tempo pelo inter e fez um gol. No segundo tempo, foi ao vestiário do Grêmio, se fardou e empatou o jogo. Detalhe: Bateu o escanteio, correu para a área e fez o gol de cabeça, segundo ele conta. Messi e Pelé, são varzeanos perto da estrela deste craque.






Nazareno  "Calada!"                                                                    

"Nazareeeno.... Calaaaada.... Senta aí!!! Isso não é mulher... Isso é um castigo!"
"Mas... seu Nazareno, por quê o Sr. se casou com a Dona Sofia? Eu tava de porre.... Tomei uma cachaça chamada Pacto com o Demo, e acordei com isso...."
Preciso falar mais?




Poderia ter citado ainda: Justo Veríssimo, Profeta, Dr. Logulo e Dr. Rossetti, Gastão, Olegário Repp, Pantaleão, Tim Tones, enfim, a lista é gigantesca e eu iria ter de escrever uns 509 posts!

Enfim, minha intenção com estas palavras, era prestar um homenagem ao maior cronista do cotidiano brasileiro. Simplesmente adoro o trabalho desse cara, e espero que a Arte que ele criou se perpetue para sempre, pois precisamos dar risada, assim como precisamos de alimentos. Precisamos rir, nem que seja de nós mesmos.




Indico para todos os amigos, este DVD, que traz alguns dos melhores momentos do astro:



Grande abraço. 

sábado, 21 de janeiro de 2012

Trovando sobre: ETTA JAMES

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Eu sou um cara chato. Não como feijão com grão, não gosto de fio na roupa, não suporto leite e ovo, sou impaciente, sou ranzinza, enfim, chato pra várias coisas. Mas em termos de cantoras, eu sou muito chato. Vozes femininas dificilmente me impressionam. Cantoras pra mim, ou são ótimas, e me emocionam ao ponto de não conseguir conversar  escutando - as, ou são uma tremenda porcaria, que só fazem exibicionismo. Etta James era do seleto grupo das ótimas cantoras.

Para o primeiro post do ano, queria começar mais positivo, mais alegre, mas não posso deixar de falar sobre esta cantora soberba e única, que faleceu hoje.

Em primeiro lugar, Etta era o tipo de cantora que podia cantar de tudo, caminhar entre todos os estilos e fazer um trabalho relevante. Gravou desde Frank Sinatra à Guns N' Roses. E com classe.

Etta James começou a carreira por de volta de 1955, e em 1961 gravou seu primeiro álbum, chamado "At Last". Para falar pouco do álbum, é um dos pilares da música popular americana, um obra de arte, que deveria ser obrigatório nas escolas de música do planeta Terra.

Etta James - "At Last

Etta James tinha uma particularidade raríssima em cantoras (es). Ela cantava com o corpo e alma, e o ouvinte sentia com o corpo e a alma, toda a emoção, o rancor, o amor, o erotismo, a raiva, a alegria ou a decepção que ela queria transmitir para quem a ouvisse.

Como um artista pode cantar com todo o corpo e alma? Elvis cantava. Janis Joplin cantava. Elis Regina cantava. Marvin Gaye cantava. Isto é um tipo de entrega que exige duas coisas do intérprete, ou você acredita profundamente no que está cantando, ou você viveu aquilo na pele, passou por aquela experiência, sobreviveu aquilo, e está aqui, de pé para contar.

Etta James cresceu nos anos 40 para 50 nos Estados Unidos, era praticamente analfabeta, negra, filha de prostituta e foi por muitos anos, viciada em heroína. Sem contar as inúmeras desilusões amorosas e problemas de saúde, decorrentes do uso de drogas e obesidade. E ela escrevia e cantava sobre isso com a maior sinceridade. Hoje em dia, as pessoas acham que é uma dádiva ir em um show de música e o "artista" não dublar, ou escrever letrinhas bobinhas de amor ou dorzinha de cotovelo (alguém já leu as letras da Adele?) Etta James sempre atuava na composição de suas letras, melodias e arranjos, e isto, para este tipo de Artista, é uma obrigação. Você recebe pelo que paga.

Quando ouço gente dizendo que Amy Winehouse, Adele, Mariah Carey e outras são "divas", "cantoras extraordinárias", que cantam com "emoção", quase racho de rir. Sério. Em primeiro lugar, estes exemplos, puramente, tentam reciclar o trabalho de Etta de outras, como Bessie Smith, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Patti Labelle, Aretha Franklin e outras artistas originais e matriarcas do estilo sincero de se expressar através de um canção de três minutos. Não condeno quem ouve essas "genéricas", mas que vá se informar, e ouvir a original, o pilar onde essas outras se escoram.

Outra característica marcante de Etta era a diversidade. Etta James gravou jazz, blues, funk, gospel, soul, rock n' roll, heavy metal, standards, bossa nova, sempre com a mesma verdade, com o mesmo coração, com a mesma intensidade, pois se ela interpretava a canção de outro compositor, o arranjo era adaptado para sua performance. Etta era comedida, suave, romântica ou sensual, caso a canção pedisse isso, e sabia subir e descer tons com extremo bom gosto sem precisar ficar se "esgoelando", ou dando berros e fazendo malabarismos vocais para mostrar que alcançava determinada nota. Etta era sentimento verdadeiro, não imposto para emplacar músicas em novelas e filmes.

Em 2008, foi lançado um filme chamado "Cadillac Records" (muito bom, por sinal) que conta a história da gravadora Chess Records, onde Etta gravou vários discos. O filme é recomendado para quem quiser conhecer mais sobre a diva. Beyoncé intrepreta Etta James com muita categoria e competência.

Cadillac Records - 2008

Enfim , eu poderia ficar horas falando sobre esta artista, que é uma das minhas cantoras preferidas de todos os tempos, mas por mais que falasse e tentasse demonstrar toda a minha admiração, todo o meu respeito, toda a minha tristeza pela sua partida, acho que, ainda assim, faltariam argumentos.

Enfim, me despeço ouvindo o trabalho desta cantora admirável e singular na História da Música do século XX.



O céu está mais alegre a partir de hoje.



Tchau.